São Paulo - O presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou nesta segunda-feira que está se sentindo muito irritado por ver sua empresa na linha de fogo do embate político. "Não fizemos nada de ilegal ou imoral", disse o executivo da empreiteira. Ele, que participa de seminário sobre exportações de serviços em São Paulo, referiu-se às notícias que foram estampadas na imprensa nos últimos dias, dando conta de que o BNDES financiou US$ 8,22 bilhões à construtora diretamente e à sua subsidiária Companhia de Obras e Infraestrutura (COI) para exportar serviços de engenharia, de 2007 a 2015.
Segundo as reportagens, apenas a construtora recebeu US$ 7,4 bilhões, com foco nas Américas do Sul e Central e na África. Os juros das operações variaram de 2,87% ao ano a 8,61% ao ano e os prazos de pagamento, de 120 a 186 meses. "Estou irritado por estarmos na linha de fogo do embate político", disse o executivo, mostrando-se irritado.
Odebrecht defendeu os financiamentos do BNDES a projetos em Angola e disse que as operações tem como garantia uma conta petróleo, o que a imprensa, segundo ele, não noticia e que em nenhum dos casos ocorreu um default sequer. "Sou favorável a isso (abertura do dados) e do debate, porque no final vai se comprovar que não tem nada de errado", disse o executivo.
Ele fez menção também a arquivos do Itamaraty ligando o ex-presidente Lula às operações da empresa no exterior. Os documentos estavam sob sigilo e agora podem vir a ser liberados. "Não se fala de outra coisa nos jornais desde sexta-feira. Sou favorável a que se abra os dados, porque não temos nada a esconder", disse Marcelo Odebrecht.
De acordo com o empresário, o escrutínio no Brasil é tão grande que os diplomatas do Itamaraty ficam até com receio de atuar. Ele elogiou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva pelo apoio que deram às empresas brasileiras de construção civil no exterior e disse que em todo o mundo existem subsídios. "Os dados aqui são muito manipulados. O País que mais recebe apoio e subsídios são os Estados Unidos", disse.
O empresário revelou que, assim que soube que poderia ser aberta uma CPI no Congresso sobre o BNDES, procurou interlocutores do governo para apoiar o movimento, justamente para provar que não havia nada errado. Pouco tempo depois, porém, mudou de ideia, pois agora acredita que a investigação pode paralisar a atuação do banco de fomento, que sofreria quase três anos, até que os trabalhos fossem concluídos. "Eu acho que essa CPI vai acabar paralisando o País", comentou.