Embora tenha evitado discutir abertamente o assunto na reunião da coordenação política – a estratégia é manter o canal de negociações aberto para tentar votar o projeto na Câmara antes do recesso parlamentar de julho –, a sensação de que a relação travou é inevitável. “Foram muitos erros nos últimos dias que complicaram um cenário que jamais esteve pacificado. Temos muito a caminhar ainda para normalizar essa relação”, admitiu uma liderança governista.
Nas últimas duas semanas, o PT insinuou que a articulação política do governo deveria voltar para as mãos do partido, deixando de ser exercida por Michel Temer. O PMDB, como vingança, montou uma operação na CPI da Petrobras para aprovar a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Lula ligou para Temer para perguntar porque o PMDB fizera aquilo e para indagar se a legenda tinha algo contra ele.
Ao longo do fim de semana, mais problemas. Os deputados do partido pressionaram para que o congresso do PT suspendesse a aliança com o PMDB e o ex-vice-líder do governo na Câmara Carlos Zarattini (PT-SP) chamou Cunha de oportunista. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o presidente da Câmara elevou o tom e esgarçou de vez as relações com o PT.
Após a reunião de coordenação, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, tentou colocar panos quentes na crise.
O problema é que, neste momento, há um descompasso. Segundo admitiu um interlocutor governista, a presidente Dilma Rousseff e a equipe econômica terão de ceder nas negociações sobre a desoneração da folha de pagamentos. Cunha tem feito lobby pessoal e pressionado o relator do projeto, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), para conseguir manter alguns setores, como comunicações e transportes, fora da lista daqueles que terão as alíquotas reajustadas.
Na noite dessa segunda-feira (15), Temer se reuniu com Eduardo Cunha e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que também participou da reunião, saiu confiante e disse que haverá acordo para votar o projeto da desoneração da folha de pagamentos e que ele será divulgado amanhã. “Está muito próximo do acordo (...) Só depois da gente conversar com os líderes que a gente vai anunciar. Mas houve excelente entendimento”, disse o ministro.
Nessa segunda-feira, Cunha voltou a reclamar do tratamento recebido dos petistas, mas garantiu que a pauta de votações da Câmara continuará inalterada, independentemente das rusgas, e que o problema dele é com o partido, não com o governo. “O presente, com as agressões continuadas, é sempre um problema. O PT sempre insiste em buscar as agressões. E não foi só um ‘movimento’ que foi ali (no 5º Congresso, em Salvador) fazer coro.