As tabelas traziam nomeações como "Lista dos Novos Negócios" para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) ou da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), com a descrição das licitações de diversas unidades operacionais dos complexos de refino da estatal. Para cada contrato, as propostas oferecidas pelo esquema de cartel apresentavam preços entre 11% e 21% acima do valor orçado pela estatal. Os documentos ainda continham as regras de funcionamento do cartel e da distribuição das obras, com empreiteiras classificadas por ordem de preferência para cada obra. A investigação também indicou que algumas empresas "reclamavam" de serem preteridas nas obras.
"Jocosamente, há tabelas nas quais à fixação das preferências é atribuída a denominação de 'bingo fluminense' e às empreiteiras, a denominação 'jogadores' (...). Há apontamento, no lado esquerdo, das obras da Petrobras a serem distribuídas, no topo, do nome das empreiteiras identificadas por siglas, e nos campos que seguem a anotação das preferências de cada uma (com os números 1 a 3, segundo a prioridade de preferência), como um passo para a negociação dos ajustes", descreve o decreto de prisão expedido pela Polícia Federal na última segunda-feira, dia 15.
De acordo com a investigação, as tabelas traziam as indicações de CO para a Construtora Norberto Odebrecht e AG para a Andrade Gutierrez. Parte das tabelas foi entregue à polícia na delação premiada do presidente da Setal Óleo e Gás (SOG), Augusto Ribeiro de Mendonça Neto.
Em depoimento, Avancini teria afirmado que as empresas reclamavam da distribuição das obras. "Havia uma reclamação quanto a empresas que tiveram pouca participação no Comperj, havendo ainda dois pacotes que faziam parte do acordo do cartel em relação a essa refinaria, um deles o Piperack e outro Tubovias. A fim de resolver a questão da distribuição das obras foi feita uma espécie de sorteio, tendo sido contemplada no pacote do Piperack a Odebrecht, em associação com a UTC e, salvo engano, a Mendes Junior", conforme trecho do depoimento transcrito no decreto.
Também os depoimentos do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do ex-gerente Pedro Barusco confirmaram a participação das empresas. Barusco afirmou que participava do esquema a diretoria de Serviço de Renato Duque. Os pagamentos teriam ocorridos em contratos das áreas de Gás e Energia, Engenharia, Exploração e Produção, segundo Barusco, no período em que atuou na Petrobras. O ex-gerente também afirmou que houve pagamentos enquanto ele já atuava como diretor da Sete Brasil e que os contratos de construção de sondas com estaleiros também contaram com desvios.
Já Costa teria indicado que "todos os recursos depositados nas contas mantidas em bancos suíços foram feitos pela Odebrecht". Os depósitos seriam feitos com periodicidade de dois ou três meses em quatro diferentes contas por intermédio do operador Bernardo Freiburghaus a título de "política de bom relacionamento". Um dos depósitos chegou ao valor de US$ 10,5 milhões, segundo o depoimento. Paulo Roberto Costa ainda teria dito que os pagamentos ocorreram mesmo após ter deixado a diretoria de abastecimento da estatal, em 2012, para acelerar os projetos em andamento na estatal. O ex-diretor disse ainda que acreditava que os pagamentos da empreiteira continuaram ocorrendo em 2014, mas que não poderia confirmar..