Ao comentar a prisão de altos executivos das empreiteiras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou mais empenho na investigação sobre a participação de governos e partidos no esquema de corrupção da Petrobras.
Fernando Henrique, que anteontem completou 84 anos, foi homenageado pela Firjan em almoço que reuniu amigos e colaboradores de seu governo, como o senador José Serra (PSDB-SP), o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Gustavo Franco.
Em discurso, o ex-presidente fez duras críticas à política econômica dos governos do PT, por medidas como o estímulo ao crédito fácil e às manobras fiscais que permitiram fechar as contas do governo Dilma Rousseff. "Estamos pagando preço elevado pelo desatino dos que nos governaram nos últimos anos, um acúmulo de erros. Não é possível existir um governo que gasta mais do que pode, que dá a ilusão de que é possível crescer dando mais crédito e fazendo aumentar o consumo. Acho que estamos perdendo o rumo. Há um sentimento de que o solo começa a faltar."
O tucano fez referência ao pacote de concessões na área de logística lançado pelo governo na semana passada. "Não adianta novo projeto de infraestrutura se não tem organização, competência, liderança para mostrar qual é o rumo." Fernando Henrique afirmou que, apesar da gravidade, não vê o cenário "com desalento" e disse ter expectativa de uma união de forças para a recuperação econômica e política do país.
Na entrevista, o ex-presidente disse que, se o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitar as contas do governo por causa das manobras fiscais, "será um fato grave". "Cobrar explicações diretamente ao presidente da República é uma coisa inédita. Não sou especialista, mas pelo que dizem há motivos para a rejeição ou pelo menos (aprovação) com fortes ressalvas, por abuso da Lei de Responsabilidade Fiscal."
Sobre o fato de o ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Agustin ter assumido responsabilidade pelas manobras, FHC disse não ser possível tirar a responsabilidade do governo. "É mais grave ainda. Ele pode reconhecer o que quiser, a responsabilidade não é dele. Ninguém toma essa decisão em nível de secretário."