Criado com o objetivo de retirar pessoas da extrema pobreza, o Programa Bolsa-Família também abasteceu a conta de esposas, filhos, sobrinhos e outros parentes de políticos pelo Brasil. De acordo com o próprio Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), 1,7 mil familiares de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos em 2012 receberam o benefício durante alguns meses ou anos neste período. O pagamento foi suspenso, segundo o MDS, tão logo foi constatado que eles não se enquadravam nas condições do programa. Em Minas, foram identificados e suspensos 322 benefícios.
Além do desligamento das famílias dos políticos do Bolsa-Familia, o ministério cobrou o ressarcimento dos valores recebidos após a posse. Em todo o território nacional, 1,2 mil (70% do total) parentes já devolveram os recursos, totalizando R$ 892 mil. Dos 322 casos de benefícios irregulares concedidos em Minas, 244 (75%) foram acionados e foram obrigados a devolver os valores, somando R$ 145 mil devolvidos.
Um dos últimos casos de pagamento irregular do Bolsa-Familia envolve o vereador Rodrigo Cadeirante (PTN), de Montes Claros. Mesmo com um salário de R$ 15,1 mil por mês, durante dois anos, ele acabou tendo a renda da família “complementada” com o benefício. Em levantamento realizado pela prefeitura da cidade, foi verificado que a mulher dele, Lusimar Verissimo dos Santos, recebeu entre 2010 e 2015 R$ 147 do programa federal, totalizando R$ 3.528.
Carentes
Enquanto parentes de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores burlam as regras e recebem os pagamentos do Bolsa-Família, pessoas bem mais pobres tentam, mas não conseguem receber o sagrado dinheirinho do programa. Exemplo disso é Gislene Ribeiro, de 44, mãe de tres filhos, moradora de um barraco de três cômodos, erguido num terreno invadido, debaixo de uma rede de alta tensão, na Vila Mauriceia, área carente de Montes Claros. Ela conta que, por mais de uma vez, tentou fazer o cadastro e não conseguiu a inclusão no programa. “O problema é que eu era fichada e ganhava um salário mínimo”, mas depois fiquei desempregada, diz Gislene, assegurando que, atualmente, procura o sustento como diarista, mas não é todo dia que encontra serviço.
“Tentei várias vezes, mas nunca consegui nada do Bolsa-Família”, diz o desempregado Mauro Cardoso Barbosa, de 47, pai de seis filhos, morador do Conjunto Chiquinho Guimarães, também uma das regiões mais pobres de Montes Claros. Mauro conta que recebe um salário mínimo por mês, a pensão da ex-mulher, morta em virtude de complicações no parto, em 1998. “Disseram que, por causa da pensão, eu não tenho direito ao cadastro, mas como tenho seis filhos, acho que posso receber (o benefício) sim”, reclama. ‘Está muito dificil pra gente viver . A maior dificuldade é pagar as contas de água e luz, pois a feira leva todo o dinheirinho da gente”, lamenta Mauro, que tenta completar a renda com pequenos biscates..