O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT perdeu parte do sonho, da utopia. Em evento promovido pelo instituto que leva seu nome, Lula fez um discurso sobre a necessidade de o partido se renovar e atrair a juventude, com duras críticas a posturas vistas hoje no partido que ajudou a criar. "O PT perdeu um pouco do sonho, da utopia. A gente só pensa em cargo, em ser eleito, ninguém trabalha de graça mais (pelo partido)", reclamou. "Estamos querendo salvar nossa pele e nossos cargos ou criar um novo projeto?", questionou.
No debate que recebeu o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Lula disse que pretende chamar para palestras representantes dos novos partidos que vem surgindo na Europa, como o Podemos.
"O PT era, em 1980, o que é hoje o Podemos. A gente nasceu de um sonho, de que a classe trabalhadora pudesse ter vez e ter voz, e nós construímos essa utopia", disse o ex-presidente, ao refletir sobre como recuperar essa ideologia. "Há necessidade de repensarmos a esquerda, o socialismo e o que fazer quando chegamos ao governo. Enquanto você é oposição é muito fácil ser democrata você pode sonhar, pensar, acreditar, mas quando você chega ao governo, precisa fazer, tomar posições."
Lula repetiu que o partido precisa se reaproximar da juventude e não deixar que prospere o discurso que afasta as pessoas da política.
O ex-presidente voltou a reclamar da imprensa brasileira. "Aqui no Brasil, até o direito de resposta não temos mais, leva 30 anos e quando sai é melhor nem responder." Lula afirmou que nove famílias controlam praticamente todos os veículos de comunicação e que o País está atrasado. "O Brasil está atrasado, a regulação da mídia aqui é de 1962, não tinha nem fax. E se você fala sobre isso, leva bordoada de tudo que é lado."
Democracia
Entre as reclamações, Lula afirmou que é mais difícil manter a postura democrática depois que se chega ao governo. Mas disse que é importante aprender a se manter no poder, mantendo as regras democráticas. Sem citar sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, Lula exaltou iniciativas do seu governo nessa área. "Nunca antes nesse País o povo exerceu tanto democracia e participou tanto do governo como no meu governo", afirmou. E lembrou que sua gestão no governo federal promoveu 74 conferências para decidir políticas públicas com movimentos sociais.
Uma das principais críticas de petistas ao governo Dilma é o afastamento da base social do partido.
Apesar do comentário de que é difícil manter-se democrata no governo, o petista afirmou que sempre soube que só seria eleito presidente pela via democrática. E comparou seu caso ao de Evo Morales, que segundo destacou Lula, também só chegou ao poder pelas urnas.
Lula defendeu ainda o Foro de São Paulo - grupo composto por partidos e movimentos de esquerda da América Latina, criado em 1990. O Foro é um dos temas mais criticados por movimentos anti-PT e anti-governo. "O Foro de São Paulo foi criado com a ideia de educar a esquerda latino-americana a praticar a democracia. Na Argentina, nem o Maradona unificava a esquerda.
O ex-presidente falou sobre política internacional e comentou rapidamente sobre ajuste, criticando o modelo que foi adotado em países como Grécia, Espanha, Reino Unido. "O ajuste imposto lá só fez com que a divida bruta crescesse", afirmou. m).