Brasília – Depois de criticar duramente a presidente Dilma Rousseff durante encontro com representantes da Igreja Católica na última quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a ser cáustico nos ataques ao PT e ao governo. Durante seminário batizado de “Novos desafios da democracia”, promovido pelo Instituto Lula com a presença do ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, o ex-presidente afirmou que “o PT só pensa em cargos”, defendeu uma revolução no partido e reclamou que a legenda, que ajudou a criar, envelheceu. “Não sei se é defeito nosso ou do governo. Mas o PT perdeu a utopia”, definiu Lula.
“Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje nós precisamos construir isso, porque a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém trabalha de graça”, recamou Lula. “Nós temos que definir se queremos salvar a nossa pele, nossos cargos ou nossos projetos”, cobrou ele.
Essa foi a segunda vez, em menos de uma semana, que Lula atacou o governo e o PT. Na semana passada, ele reclamou que “Dilma, o governo e o PT estão no volume morto, incapazes de dar uma boa notícia desde as eleições presidenciais”. Internamente, os petistas afirmam que a estratégia adotada pelo ex-presidente é clara: “Me blindem, pois não existe governo Dilma sem mim”, avisou ele.
Para petistas graúdos, Lula cansou de avisar internamente que se sente desprestigiado e, especialmente, desprotegido, diante dos desdobramentos da Operação Lava-Jato.
A avaliação desfavorável a Lula estaria sendo reforçada por ministros como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante; da Secretaria-Geral, Miguel Rossettto; da Secretaria de Direitos Humanos, Pepe Vargas; e da Justiça, José Eduardo Cardozo. Justamente o grupo de conselheiros presidenciais que não integram a ala lulista do governo. Lula fez chegar ao núcleo governista que, quando Dilma patinava nos índices de aprovação e nas ações no primeiro semestre, ele foi o primeiro a avisar que não era possível fracionar os governos – oito anos exitosos dele e quatro sofríveis de Dilma. “Ele emprestou o legado para que ela se reelegesse. Agora, por motivos diversos, também não interessa se desapartar de Dilma para se deteriorar sozinho”, disse um petista próximo a Lula.
No Planalto, a impressão é que o recado ecoou pelos corredores sem ser ouvido. Há quem diga que é apenas “questão de tempo” para Lula ser preso. Apesar dos constantes avisos do ex-presidente, o governo está tão afundado em problemas, que não consegue pensar em uma estratégia para blindá-lo. Ainda mais porque quem tomaria a frente da defesa seria justamente Cardozo, ministro pelo qual Lula jamais nutriu simpatia.
A avaliação é de que o governo patina na própria impopularidade, com uma rejeição de 65% e uma avaliação positiva de apenas 10%. Além disso, haveria tendência de piora da conjuntura, com aumento do desemprego, a inflação, juros altos e baixo crescimento. Com isso, sobraria pouco tempo para o Planalto blindar Lula.
O ex-primeiro-ministro da Espanha falou um pouco sobre seu partido, o Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), que deixou o governo após denúncias de corrupção.
Com agências
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