A Polícia Federal tem pelo menos US$ 7 milhões da suposta propina paga pela Construtora Norberto Odebrecht, no esquema de cartel e desvios na Petrobras, identificados em laudo pericial. São 24 registros de transações bancárias, entre 3 de abril de 2009 e 18 de maio 2012, descobertos a partir das confissões e documentos obtidos pela Operação Lava-Jato.
O levantamento consta de tabela elaborada pela PF, no Laudo 0777/2015, anexado ao pedido de prisão feito do presidente da empreiteira, Marcelo Bahia Odebrecht, e de outros executivos e pessoas ligadas ao grupo. A construtora e a Andrade Gutierrez são os alvo da 14ª fase da Lava-Jato, deflagrada na sexta-feira. A tabela trata de pagamentos que teriam como beneficiários os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), o ex-gerente Pedro Barusco (Engenharia) e o doleiro Alberto Youssef.
O objetivo, nesse item do documento, foi tentar identificar entre outras coisas "depósitos de valores em contas mantidas no exterior" relacionados à Odebrecht. "Em alguns casos, não foi possível identificar dados pertinentes tais como Instituição Financeira do remetente, nome do remetente e conta bancária", informa o laudo solicitado pelos delegados Igor Romário de Paula e Eduardo Mauat da Silva. O levantamento, a partir das delações dos colaboradores, cruzou documentos de registros dos valores, com dados obtidos.
No laudo são analisados ainda 10 materiais apreendidos nas buscas feitas em novembro de 2014, quando foi deflagrada a sétima fase da operação, em endereços relacionados aos executivos da Odebrecht Márcio Faria e Rogério Araújo. Os dois são apontados pelos delatores como ordenadores dos pagamentos da empreiteira. Foram cruzados dados ainda de documentos da Petrobras e do Tribunal de Contas da União.
O laudo contábil, financeiro e de engenharia da PF, do dia 27 de abril, é subscrito pelos peritos criminais federais João José de Castro Baptista Vallim e Adilson Carvalho Silva. A maior parte dos valores está com origem identificada: a offshore Constructora Internacional Del Sur, aberta no Panamá, em 2006. Ela é apontada pelos beneficiários da propina como canal de pagamento da Odebrecht no esquema de corrupção da Petrobras.
Personagem central para descobrir detalhes sobre o uso da Constructora Del Sur pela Odebrecht é o doleiro Bernardo Freiburghaus, apontado por delatores como operador de propinas da empreiteira. "A constatação de que a Constructora Internacional Del Sur efetuou depósitos nas contas off-shore de, pelo menos, três dirigentes da Petrobras, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque, permite concluir por sua ligação com o esquema criminoso de cartel e propinas que afetou a Petrobras", sustenta o juiz federal Sérgio Moro, em decisão que decretou as prisões dos executivos.
Primeiro delator da Lava-Jato, Costa apontou as contas em nome das offshores Sygnus Assets S.A., no banco PKB PrivateBank S.A, Quinus Services S.A., no HSBC, Sagor Holding S.A., no Julius Baer e conta nº 016780-40, no Deutsche Bank como "controladas por Bernando Freiburghaus, mas pertencentes" a ele. Segundo Costa, os US$ 23 milhões que ele tinha em conta secreta na Suíça - e que devolveu após acordo de delação - foram propina da Odebrecht, operada por Freiburghaus.
O doleiro Alberto Youssef, também delator da Lava-Jato, afirmou à Justiça Federal operacionalizou pagamentos de propinas para a Odebrecht. Nesse caso, o caminho percorrido pelos investigadores da Lava Jato segue outro destino: Hong Kong. São contas de titularidade das offshores RFY e DGX, nos bancos Standart Chartered e HSBC, em Hong Kong, controladas pelo doleiro Leonardo Meirelles. fonte: Estadão Conteudo