(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Ordem de Marcelo Odebrecht para 'destruir e-mail' ganha duas versões

"Destruir e-mail", diz texto do presidente da Odebrecht à advogada dele, visto pela PF como ordem para ocultação de provas. Defesa afirma tratar-se de orientação para contestá-las


postado em 25/06/2015 00:12 / atualizado em 25/06/2015 07:56

Eduardo Militão/enviado especial

PF fez busca na Odebrecht na sexta-feira (19) e agora quer e-mails guardados em servidor de empresa do grupo (foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
PF fez busca na Odebrecht na sexta-feira (19) e agora quer e-mails guardados em servidor de empresa do grupo (foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Curitiba – Da carceragem da Polícia Federal, o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, enviou um bilhete aos advogados em que alinha estratégias de comunicação e de defesa para pedido de habeas corpus. “Destruir e-mail sondas” é um desses pontos. Para a Polícia Federal, que interceptou o texto e remeteu uma cópia ao juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Moro, trata-se de uma tentativa de apagar provas que incriminem o executivo da maior empreiteira do país. Para a defesa, a interpretação está equivocada e a ordem é apenas uma linha de defesa que significaria algo como “destruir a argumentação do e-mail sobre navios-sondas”. No despacho de prisão, Moro citou uma mensagem enviada ao executivo pelo diretor da empresa Roberto Prisco Ramos em que este fala em “sobrepreço de 20 mil a 25 mil por dia” nas sondas, sem especificar a moeda do negócio.

Nessa quarta-feira (24), o delegado Eduardo Mauat informou ao juiz que o bilhete foi apreendido na segunda-feira pela manhã pelos agentes, que estranharam a menção a destruir um documento. Por praxe, todas as comunicações são lidas pela PF antes de serem entregues. Os policiais fotografaram o documento de duas páginas. Ele começa com o título “Pts para o HC”. Segundo fontes da empreiteira, foi escrito por Marcelo na prisão para subsidiar a defesa dos advogados, relacionando vários argumentos que poderiam ser usados para tirá-lo da cadeia.

A advogada Dora Cavalcanti apresentou a versão da empresa para a mensagem, mas Mauat não se convenceu. “Havia clara possibilidade de ter havido orientação para a prática de conduta estranha à relação advogado-cliente”, disse ele no ofício ao juiz. Abaixo da mensagem sobre destruição de e-mail, há menção a “RR”, que a polícia entende ser Roberto Prisco Ramos, que usava e-mail da Braskem, uma das empresas da Odebrecht.

Temendo destruição de documentos, a PF reiterou pedido feito à Braskem na semana passada, para entregar todas as mensagens de e-mail da conta roberto.ramos@braskem.com.br, a mesma que mencionou o suposto sobrepreço nas sondas. A Odebrecht diz que não se trata de superfaturamento, mas de margem de lucro na operação.

‘Tumulto’ Dora Cavalcanti disse ao Estado de Minas que a suspeita da PF é uma “tentativa de causar incidente processual que não existe”. “Eu não queria tumulto.” Ela disse que vai reclamar do fato de o bilhete de Marcelo ter sido anexado aos autos do processo sem sigilo. “Isso é uma violação de correspondência.”

A estratégia da defesa consta do documento. Marcelo afirma que uma pessoa identificada como “RA” – que Dora não explica se seria o executivo preso Rogério Araújo – foi investigada internamente e afastada dos negócios com a Petrobras, além de estar em licença médica. Os executivos da Odebrecht estão sendo afastados dos cargos, formalmente a pedido dos próprios, para que se argumente que não há motivo para a continuidade das prisões. Dora disse que não pode comentar o teor do restante do bilhete.

Nessa quarta-feira, Moro estendeu a detenção do diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar. Ele ficará em prisão preventiva, a pedido da PF e do Ministério Público. Alencar, que se desligou da empreiteira, viajava com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para palestras no exterior pagas pela construtora.

O dicionário de cada um - O que dizem defesa e acusação

Destruir


Policiais federais suspeitam que o verbo usado no bilhete de Marcelo Odebrecht à sua defesa seja uma ordem para que seja dado sumiço a provas. “Destruir, no caso, era esclarecer o contexto do e-mail e aniquilar a interpretação de que sobrepreço era superfaturamento”, diz a advogada Dora Cavalcanti.

Sobrepreço

Mensagem enviada ao presidente da Odebrecht e outros executivos fala em “sobrepreço” num contrato de sondas. Para o juiz Sérgio Moro, trata-se de uma referência a superfaturamento. A defesa alega que o e-mail recebido por Marcelo Odebrecht refere-se a discussões técnicas entre executivos, e que o termo “sobrepreço” tem a ver com a remuneração proposta à Sete Brasil, numa tradução do termo em inglês “cost plus fee”.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)