Petistas convivem com o medo de Lula ser preso na Lava-Jato

Temor da cúpula do partido de que as investigações atinjam Lula ganha forma em pedido de habeas corpus feito por simpatizante

Flávia Ayer
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Atormentada com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, a cúpula petista foi surpreendida na manhã dessa quinta-feira (25) com uma  notícia que expõe um dos maiores temores do partido. A Justiça Federal recebeu pedido de habeas corpus preventivo para evitar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja preso por envolvimento no esquema de propina na Petrobras. Quem passou o susto foi um cidadão comum, o consultor Maurício Ramos Thomaz, de Campinas, que impetrou a ação para proteger Lula. Logo no início da tarde, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou o habeas corpus e encerrou o assunto. Mas o episódio, provocado por um simpatizante do político, acabou no pior: a associação direta da figura do ex-presidente com o maior esquema de corrupção já investigado no país.


A repercussão do pedido de habeas corpus levou até mesmo a 13ª Vara Federal de Curitiba, ligada ao TRF4, que centraliza a investigação da Lava-Jato, a informar que não há “qualquer investigação em curso” relacionada ao ex-presidente e a se posicionar sobre a necessidade de “afastar polêmicas desnecessárias”. O rebuliço ocorre uma semana depois da prisão do presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht, que acendeu sinal de alerta entre petistas. Eles temem que o depoimento do executivo comprometa o partido e, especialmente, Lula.


Sem autorização do ex-presidente, o consultor Maurício Ramos Thomaz, de 50 anos, temendo que o petista fosse preso a qualquer momento, tratou de tomar providências. Simpático a Lula e eleitor de Dilma, Maurício não tem curso superior, mas acumula experiência em propor habeas corpus à revelia dos pacientes.

Ele já entrou com ações em favor do jornalista Diogo Mainardi, do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e, no processo do mensalão, em favor de réus como Marcos Valério e Roberto Jefferson.


Nessa quinta-feira, ele acordou, às 11h30, com o telefonema do Estado de Minas e contou que nasceu no Paraná, mas “odeia” o estado onde está centralizada a investigação da Operação Lava-Jato. Também chamou o juiz Sérgio Moro, que comanda a apuração, de “caipira de Londrina” – Moro nasceu em Maringá. Para o desembargador federal João Pedro Gebran Neto, que negou o habeas corpus, a iniciativa de Thomaz foi uma “aventura jurídica”. “Não existe qualquer fundamento legal para a pretensão”, afirmou.


Ao pedido, foram anexadas notícias que, na avaliação do magistrado, não mostram o risco de ameaça de ir e vir de Lula. “Cuida-se apenas de aventura jurídica que em nada contribui para o presente momento, talvez prejudicando e expondo o próprio ex-presidente”, avaliou o magistrado. O Superior Tribunal Federal (STF) entende que habeas corpus feitos por terceiros têm que ser arquivados.


Além de desagradar Lula, Thomaz pode ter problemas com a Justiça por causa da iniciativa. O desembargador encaminhou o processo para o Ministério Público Federal “para a adoção de providências cabíveis”. Segundo Gebran, o consultor usou linguagem “imprópria, vulgar e chula, inclusive ofendendo a honra de várias pessoas nominadas na inicial”. Moro, por exemplo, foi chamado de “hitleriano” e “moralmente deficiente”.


Advogados do ex-presidente Lula, que soube do processo pela imprensa, logo entraram com pedido no TRF4 para que o habeas corpus preventivo não fosse considerado. Na petição, os defensores afirmam que isso foi feito “por pessoa estranha, provavelmente inspirada por vários interesses, como o de se fazer notar pela imprensa ou mesmo por interesses políticos”. O Instituto Lula também se posicionou: “Não temos informação se foi uma pessoa de boa-fé ou um provocador da oposição tentando gerar um factoide.” (Colaborou Eduardo Militão)

Delação homologada

O ministro Teori Zavascki, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) dos inquéritos da Operação Lava-Jato que apuram o envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobras, homologou nessa quinta-feira à noite o acordo de delação premiada firmado entre o dono da UTC, Ricardo Pessoa, e a Procuradoria-Geral da República (PGR). Pessoa assinou o documento de colaboração em 13 de março. Ele é acusado de coordenar o cartel das empreiteiras que teriam participado do desvio recursos da Petrobras.

A delação tem cerca de 80 páginas e faz menção a alguns nomes já investigados na Operação Lava-Jato, como o do senador Romero Jucá (PMDB-RR). A partir de agora, Pessoa terá que prestar depoimentos complementares.

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