Independentemente da decisão do Supremo, o Congresso tem a prerrogativa de votar leis e emendas à Constituição. No caso específico do financiamento de campanhas, mais ainda, já que o Supremo ainda não acabou de julgar a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que trata do assunto. E vale lembrar que o regimento interno do STF ainda permite que os ministros alterem seus votos até o final do julgamento. O que quer dizer que eles ainda podem reverter o entendimento de que empresas não podem doar dinheiro para partidos políticos em época eleitoral.
O julgamento começou em dezembro de 2013 e desde abril do ano passado está nas mãos do ministro Gilmar Mendes, que pediu vistas do processo.
Atualmente, o financiamento de campanha no Brasil é público e privado. Políticos e partidos recebem dinheiro do Fundo Partidário (formado por recursos do Orçamento, multas, penalidades e doações) e de pessoas físicas (até o limite de 10% do rendimento) ou de empresas (limitadas a 2% do faturamento bruto do ano anterior ao da eleição). As regras, porém, não estão previstas na Constituição.
REJEIÇÃO Diante da demora no julgamento, um grupo de 61 parlamentares de seis partidos (PT, Psol, PSB, PPS, PCdoB e Pros) entrou no último dia 30 com um mandado de segurança para anular a votação realizada na Câmara dos Deputados e que resultou na aprovação do financiamento privado de campanha. Os autores da ação argumentam que a emenda apresentada à PEC 182/07 (reforma política), que permite aos partidos políticos receber recursos de pessoas físicas ou jurídicas, seria semelhante a outra PEC rejeitada no dia anterior à aprovação dela.
A tese do mandado de segurança apresentado pelos deputados federais é que a votação dessa segunda proposta seria uma violação do processo legislativo, pois a Constituição Federal veda a análise de emendas constitucionais sobre o mesmo tema durante uma mesma sessão legislativa. No entanto, os parlamentares não convenceram a ministra Rosa Weber. Relatora do mandado de segurança, ela negou liminar para suspender a tramitação da PEC 182.
Entenda o caso
No fim de maio, um dia depois de reprovar o financiamento empresarial das campanhas políticas, a Câmara dos Deputados, capitaneada pelo presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez uma manobra colocando o tema novamente em votação e conseguiu aprová-lo. Por 330 a 141 votos, o projeto permitiu que partidos, e não candidatos, recebam doações de empresas nas eleições. A proposta ainda precisa ser aprovada em segundo turno na Câmara e depois pelo Senado. Se for aprovada, os candidatos continuam proibidos de aceitar financiamento empresarial de forma direta. Mas, na prática, as legendas poderão repassar os valores para seus candidatos para bancar campanhas.