Dilma viaja para os EUA em meio a novo escândalo da Lava-Jato

Além da retração econômica e da baixa popularidade, presidente Dilma leva novos problemas na bagagem para os EUA

Flávia Ayer
- Foto: EM/D.A.Press
A presidente Dilma Rousseff embarcou ontem para os Estados Unidos, um dia depois de vir a público o conteúdo da delação premiada do presidente da UTC Ricardo Pessoa, que relatou doações ilegais para sua campanha à reeleição de 2014. O vazamento dos depoimentos do empreiteiro levou Dilma a convocar uma segunda reunião emergencial com os ministros petistas Edinho Silva, da Comunicação Social; Aloizio Mercadante, da Casa Civil;  e José Eduardo Cardozo, da Justiça – na noite de sexta-feira, ela já havia feito uma com os três e outros integrantes de sua equipe. Segundo informações de bastidores, a presidente se mostrou “indignada”, pois avaliou, com os ministros, que há um “vazamento seletivo” na tentativa de aprofundar a tese que criminaliza doações legais para atingir sua campanha e desestabilizar a sua presidência.


A reunião acabou atrasando o voo presidencial em uma hora e meia. A viagem aos EUA, onde Dilma cumprirá uma intensa agenda de compromissos a partir de hoje, ocorre em um momento sensível do seu segundo mandato. Mais que criar oportunidades de negócios e retomar o diálogo entre os países depois de ter cancelado viagem, em 2013, após denúncias de que os EUA estavam espionado autoridades e estatais brasileiras, a presidente terá que se explicar. Diferentemente de 2013, quando os números jogavam a favor do Brasil, agora, ela precisa convencer os americanos de que, apesar da crise, vale a pena apostar no país. E, para complicar, além de justificar a alta inflação, desemprego baixo e rejeição recorde, Dilma terá o desafio de esclarecer as denúncias de caixa 2 em sua campanha, feitas por Ricardo Pessoa, novo delator da Operação Lava-Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.

Além de todos os problemas, a presidente Dilma embarcou sem dois dos principais nomes do seu ministério. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi hospitalizado na noite de sexta-feira, com quadro de embolia pulmonar, e só conseguiu autorização médica para viajar à noite.

Do grupo político, Aloizio Mercadante, também citado pelo delator, decidiu não acompanhar a presidente para se explicar sobre as declarações de Ricardo Pessoa.

Em delação premiada à Procuradoria-Geral da República, o presidente da UTC detalhou que repassou R$ 3,6 milhões em caixa dois para o PT e, ainda, que a campanha da presidente teria recebido R$ 7,5 milhões. Não bastassem os escândalos, a rejeição ao governo de Dilma deu salto de 22%, em agosto de 2013, para 65%, este mês, de acordo com o Datafolha.

Se, no cenário político, Dilma está em situação delicada, o panorama econômico está longe de ser animador. Em outubro de 2013, quando ela decidiu adiar a ida aos EUA, o Brasil tinha taxa de desemprego de 5,2%, contra 6,7% anunciados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação estava sob controle. Em outubro de 2013, o acumulado de 12 meses do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, era de 5,84%. O mesmo índice já alcançou 8,47% em maio, acima do teto da meta para o ano, de 6,5%.

Hoje, a presidente cumpre agenda em Nova York, onde está prevista uma reunião com investidores e empresários. Na segunda-feira, ela estará em Washington para um jantar de gala oferecido pelo presidente Barack Obama na Casa Branca. Na terça-feira, eles voltam a se encontrar para reunião de trabalho. A agenda se encerra na Califórnia, com visita à sede do Google, ao Centro de Pesquisas da Nasa e à Universidade Stanford. Ao longo da viagem, 10 ministros participarão da comitiva.

Antes de embarcar, a presidente conversou com o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e disse ter certeza de que a visita “será de grande importância”. Biden também transmitiu “a elevada expectativa do governo americano”. Ambos os países tratam o assunto espionagem como superado. Em 2013, houve denúncias de que a Agência Nacional de Segurança norte-americana (NSA, na sigla em inglês) espionou a presidente, seus assessores e a Petrobras.

 

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