A inclusão do nome da presidente Dilma Rousseff (PT) na lista de políticos que teriam se beneficiado em esquema de corrupção na Petrobras em troca de doações para campanhas eleitorais reacendeu os pedidos de impeachment feitos por parlamentares da oposição. Numa lista que inclui outros 17 políticos, do PMDB, PSDB, PT, PTB, PSB e PP, Dilma foi citada pelo presidente da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiária do esquema com repasses para sua campanha do ano passado e em 2010. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que o novo depoimento, feito por meio de delação premiada, pode servir como prova de que as campanhas petistas foram abastecidas com dinheiro desviado da Petrobras e que “a Câmara dos Deputados deve abrir um processo de impeachment”.
Ontem, outros parlamentares da oposição criticaram a presidente por meio das redes sociais e pediram a abertura de um processo de impeachment. “Se ela (Dilma) não pedir o afastamento e as apurações, estará, com seu silêncio e inércia, dando veracidade ao conteúdo da delação”, disse Rubens Bueno (PPS-PR). A movimentação pela queda do governo tinha perdido fôlego nas últimas semanas. No final de maio, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Junior entregou ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, um parecer recomendando que a legenda desistisse de pedir a abertura do processo e passasse a questionar as chamadas “pedaladas fiscais” por meio de ação penal no Ministério Público.
PROVAS Depois de duas reuniões com ministros para discutir as novas denúncias, a presidente Dilma escalou o titular da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, para rebater as denúncias feitas por Ricardo Pessoa. Durante coletiva, Silva disse que “causa indignação” a tentativa de criminalizar doações legais. Perguntado se o governo teme que as denúncias reacendam o debate sobre impeachment, Silva respondeu: “Não há fundamento legal para isso. O que estamos enfrentando neste momento é o vazamento seletivo de uma delação premiada. Algo que precisa ser provado”, afirmou Edinho.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ressaltou que o benefício da delação premiada pode ser suspenso pela Justiça caso fique comprovado que o depoimento dado não seja verdadeiro. “Temos que entender o contexto em que a delação é feita: que a pessoa quer obter benefícios. Ela pode dizer toda a verdade, pode mentir em tudo, pode ser seletiva também nas informações que presta. Isso tem que ser apurado e investigado”, disse.
Cardozo afirmou que a presidente Dilma está “absolutamente tranquila” e que o governo quer agilidade na apuração dos fatos. “O governo e todas as pessoas atingidas por uma delação têm interesse claro que a investigação vá a fundo e o mais rápido possível. Porque não há nada pior do que haver uma acusação que você não sabe se ela é real, não tem como se defender”, avaliou o ministro.
À tarde, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante – que também foi citado por Pessoa como beneficiário de repasses para sua campanha ao governo de São Paulo, em 2010 – descartou a hipótese de um processo de impeachment. Segundo ele, “não há base jurídica”. Mercadante admitiu que desistiu de acompanhar a presidente Dilma em sua viagem aos Estados Unidos para se defender das acusações. “Eu queria estar aqui, explicar todas as vezes que fosse necessário. Tenho como homem público obrigação de prestar esclarecimentos. Quem não deve não teme. Por isso, fiquei”, afirmou o petista. (Com agências)
Assessor
O chefe de gabinete do ministro Edinho Silva, Manoel de Araújo Sobrinho, foi apontado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, como o responsável por acertar doações de R$ 7,5 milhões à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014, supostamente obtidos por meio de achaque à empreiteira. Segundo a revista Veja publicada ontem, Pessoa contou que fez contribuições oficiais à coligação de Dilma após conversa com Edinho, na qual o ministro, então tesoureiro da campanha, teria vinculado as doações a contratos na Petrobras. Sobrinho trabalhou no comitê financeiro da presidente, ao lado de Edinho. No ano passado, ele doou R$ 24,8 mil para a campanha de Dilma.