O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Valdir Simão, sugeriu nesta terça-feira,a implantação de mecanismos de compliance na administração pública. "Tudo começa com prevenção. Não podemos somente trabalhar com a mudança do caráter das pessoas para combater a corrupção. Se a gente for esperar por isso vamos ter que esperar muito tempo."
Grandes companhias e instituições financeiras têm adotado o compliance em sua rotina interna, principalmente depois que caíram na malha fina da Polícia Federal, da Procuradoria da República e da própria CGU. O ministro quer levar essa ferramenta para o poder público.
Valdir Simão vai se reunir com entidades da sociedade civil que historicamente lutam pela transparência nas contas públicas e realizam monitoramento dos atos da administração. O encontro será na tarde desta terça, 30, em Brasília. Ele quer construir uma agenda de enfrentamento à corrupção, alicerçada em três grandes pilares: prevenção, detecção e punição.
A CGU tem sido cada vez mais decisiva no cerco aos desvios e às fraudes contra o erário. Seus relatórios de inspeção abastecem frequentemente outros órgãos de fiscalização e grandes operações da PF em parceria com o Ministério Público Federal.
Ao defender o compliance no setor público, Valdir Simão é categórico.
Graduado em Direito, no cargo desde janeiro, o ministro carrega em seu currículo importantes passagens por setores estratégicos da administração - por exemplo, como auditor fiscal da Receita Federal, onde ingressou em 1987, e já atuou como secretário adjunto entre 2007 e 2008; secretário da Fazenda do Distrito Federal em 2011 e, por duas vezes, presidente do INSS.
Ao anunciar os três pilares que avalia fundamentais para o êxito da missão a que se propõe, o ministro-chefe da CGU argumenta. "Temos que aperfeiçoar os controles, criar um ambiente de controle efetivo, hostil à prática da corrupção. Estimulamos as empresas a adotarem programas de compliance, mas é importante que a gente tenha isso também na administração pública."
A CGU, anota Valdir Simão, tem em sua essência o controle interno. "Temos esse olhar privilegiado sobre as contas do governo. Por isso, é necessário ter clareza sobre os processos decisórios, como eles se dão, um sistema que não concentre a decisão, e que essa decisão possa ser compartilhada, transparente, que haja canais efetivos de denúncia das pessoas que queiram denunciar a prática de atos de corrupção."
Para o ministro, outra importante medida é o 'Treinamento constante e contínuo, não só para os servidores, mas também para os administradores, sobre a ética e a integridade".
"Estamos elaborando um programa com a nossa visão do controle", pondera o ministro. "Precisamos avaliar também se esse ferramental, se essa cultura de integridade, permeia todas as instâncias daquele órgão, todos os departamentos, e se, efetivamente, as pessoas estão vivenciando essa cultura de compliance."
Para Valdir Simão, "no caminho da prevenção é preciso ter um olhar para como as coisas acontecem em cada um desses órgãos, como as decisões são tomadas, se são transparentes, se as pessoas têm liberdade para denunciar". O ministro-chefe da CGU aponta para o que chama de trilha de auditoria para identificar malfeitos. Ele fala da detecção.
"Aí entra o monitoramento contínuo, cruzamento de informações. Temos condições de monitorar cada ato, é fundamental no âmbito da CGU. Que sejam observados os processos decisórios ou que tenha alguma suspeita para que possam ser investigados."
A punição é o terceiro pilar apontado pelo ministro para tornar eficaz o combate aos malfeitos.
Valdir Simão aborda o comportamento do infrator. "O corrupto e o corruptor sempre racionalizam: 'qual é o ganho que eu vou ter?, qual é o risco que eu tenho se for identificado?, qual a penalidade que eu posso receber?' É a equação do vale a pena ou não. Logo, temos que aumentar a percepção de risco e reprimir aquele que pratica atos de corrupção. Depois do ato praticado sempre fica muito mais difícil recuperar. Temos que evitar que arrombem o cofre."
O ministro faz um alerta. "Não podemos ser permeáveis à prática de ato de corrupção. Precisamos ter capacidade de reprimir qualquer tentativa do setor privado ou daquele mal intencionado que pretende obter ganhos ilícitos na administração pública. A administração pública deve se blindar e ter capacidade de identificar (a ação de corruptos), rechaçar qualquer tentativa desse tipo. Daí a importância dessa visão do compliance do lado de cá. Aí a gente fecha o ciclo."
Valdir Simão quer 'uma relação higienizada entre o público e o privado, mais transparente'.
"Não é só apostar na mudança de comportamento, mais que isso é garantir um ambiente de controle efetivo, que não abra oportunidade à prática (dos desvios). Pode até ter um elemento que queira praticar um ato, mas diante de um sistema de controle que funcione bem, amadurecido, esse agente sabe que o risco de ser identificado é muito maior. Ele não vai ficar impune.".