As revelações de Avancini foram feitas dia 12 de março em delação premiada que ele firmou com a força-tarefa da Lava-Jato. Dois termos da colaboração do executivo foram juntados aos autos pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações sobre desvios e cartel na Petrobras. Ao enviar ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) informações em habeas corpus impetrado por um alvo da Erga Omnes - a mais nova etapa da Lava-Jato -, o juiz assinalou que "há provas" de que o esquema que provocou um rombo estimado em R$ 6 bilhões na estatal petrolífera foi "reproduzido" em outras áreas do governo.
Em sua delação, Avancini diz não saber se a reunião na UTC ocorreu por iniciativa de Ricardo Pessoa ou de Antonio Carlos Miranda. Presidente da UTC Engenharia, Pessoa também fez delação premiada e apontou os nomes de pelo menos 18 políticos supostamente beneficiários de recursos do cartel. O empreiteiro declarou à Procuradoria-Geral da República que repassou R$ 7,5 milhões para a campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência, em 2010.
Naquela reunião, destacou o delator, foram "tratados alguns aspectos técnicos desse contrato, bem como o cronograma de execução, haja vista que a própria Andrade Gutierrez já havia reportado que atrasos na área civil iria repercutir no descumprimento de prazos do novo contrato".
O delator citou um executivo, Luiz Carlos Martins, segundo ele também da Camargo Corrêa. Avancini disse que "cogitou-se da necessidade de contratação de uma empresa para dar cobertura legal ao pagamento da propina, sendo definido que caso isso fosse feito ficaria a cargo de Luis Carlos e de Miranda (da UTC) tratar desse assunto".
A transcrição do relato de Dalton Avancini. "Que nessa reunião estavam presentes pela Andrade Gutierrez, Flávio Barra, pela Techint Ricardo Ourique, pela Camargo o declarante, pela UTC, Ricardo Pessoa, pela Odebrecht, Fabio Gandolfo, o qual segundo sabe estaria tratando pela primeira vez acerca do assunto, pela EBE um executivo de nome Renato, segundo recorda e pela Queiroz Galvão o seu presidente de nome Petronio; que, observa que na sua caixa de e-mails existe uma mensagem eletrônica datada de 26/08/2014 enviada pela UTC onde consta a convocação para a mencionada reunião, ocorrida na sede da última empresa; que não sabe se efetivamente houve algum pagamento de propina ou a promessa de pagamento a alguém em especial, eis que no mês de setembro de 2014 acabou sendo detido e se encontra desde então na custodia desta Superintendência da Polícia Federal no Paraná."
A Eletronuclear não respondeu ao contato da reportagem até o fechamento da matéria.
Defesa do PMDB
O PMDB repudia todas acusações de pagamento de propina ao partido.
Defesa Andrade Gutierrez
"A Andrade Gutierrez vem sendo consultada com frequência sobre informações contidas em documentos a que não teve acesso e esclarece que não se manifestará sobre tais conteúdos. No entanto, a companhia reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja, nem participou de esquemas ilícitos de favorecimento a políticos. Como vem fazendo desde o início da Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez reafirma que não tem ou teve envolvimento com os fatos hoje investigados e vem mais uma vez repudiar as acusações feitas à empresa."
Defesa da Odebrecht
"A Construtora Norberto Odebrecht nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado, o que obviamente inclui as obras de Angra3 e Belo Monte, portanto não reconhece como verdadeiras as afirmações do criminoso colaborador que, visando obter a sua liberdade, em razão de prisão preventiva, não tem qualquer compromisso com a verdade. Aliás, o próprio Juiz, no despacho que homologou a delação premiada de Dalton Avancini, alertou que o conteúdo dos depoimentos prestados é "de questionável valor para a Justiça Criminal".
Defesa da Camargo Corrêa
"A Construtora Camargo Corrêa reitera que está colaborando com as investigações ainda em curso e desenvolve esforços para sanar irregularidades e aprimorar sua governança corporativa."
Defesa da Queiroz Galvão
"A Queiroz Galvão acredita firmemente na idoneidade de todos os seus executivos e reafirma seu compromisso com a ética e a transparência. A companhia nega veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens e reitera que todas as suas atividades seguem rigorosamente à legislação vigente".
Defesa da UTC
A UTC Engenharia não vai se pronunciar..