Glenn Greenwald e David Michael Miranda, jornalistas do Intercept, tiveram acesso aos documentos secretos da NSA em posse do WikiLeaks e confirmaram ao Estado de Minas que os EUA começaram a bisbilhotar a cúpula petista durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “O dossiê deixa claro que algum tipo de espionagem começou em 2010”, afirmou Greenwald, por e-mail. “Tudo teve início em 14 de dezembro de 2010. O estado de vigilância começou durante a era Lula”, ressaltou Miranda, por telefone.Entre as autoridades espionadas, estão Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil; o ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado; o atual ministro do Planejamento, Nelson Henrique Barbosa Filho; e Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central; além de embaixadores. Os nomes aparecem acompanhados dos códigos S2C42 — unidade da NSA que se foca na coleta de inteligência de lideranças políticas brasileiras — e S2C51, em alusão à filial política e financeira internacional da agência.
Em nota, o Palácio do Planalto destacou que a presidente “considera o episódio superado”.
Vantagens Fundador do WikiLeaks, Julian Assange sustentou que Washington tem longo caminho para provar que pôs fim à rede de vigilância sobre aliados. “Os EUA não apenas têm alvejado a presidente Rousseff, mas também figuras-chave com as quais ela conversa todos os dias. É fantasioso imaginar que a presidente possa dirigir o Brasil conversando sozinha. Se ela deseja ver investimentos americanos no Brasil (…), como pode assegurar às companhias brasileiras que as homólogas nos EUA terão vantagem fornecida pela vigilância?”.
Em entrevista ao Estado de Minas , Kristin Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, considerou surpreendente o fato de a NSA ter se focado em pessoas que manejam as finanças do Estado brasileiro. “A espionagem é econômica, por natureza, em vez de se centrar em questões de segurança ou de defesa”, admitiu. “Não é improvável novas informações sobre a espionagem no Brasil.”
Greenwald afirmou à reportagem que a espionagem é “muito mais profunda e invasiva” do que se sabia. “É altamente improvável que isso tenha parado.” Ele lembra que os alvos são esmagadoramente financeiros e econômicos. “Parece tratar-se de espionagem clássica, desenhada a conferir vantagem econômica dos EUA sobre o Brasil.” Miranda classificou as denúncias de “uma afronta à soberania brasileira”. “Eles se voltavam a obter informações privilegiadas sobre a posição do Brasil em inúmeros casos, o que é muito grave. O que a Dilma pode falar quando há um grampo dentro do avião oficial brasileiro?”, disse.
DESCOBERTA
Em setembro de 2013, o jornalista Glenn Greenwald obteve do ex-analista da NSA Edward Snowden documentos comprovando que a agência de inteligência norte-americano espionou a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras. Os alvos do monitoramento seriam ligações telefônicas, mensagens de texto e o correio eletrônico de Dilma e de vários assessores.