Brasília - Mesmo após a presidente Dilma Rousseff ter desafiado a oposição a tirá-la do cargo, o PMDB aproveitou a ausência dela nessa qurata-feira (8) para ensaiar uma aproximação com o PSDB que pode resultar, no curto prazo, na convocação de dois importantes ministros para prestar esclarecimentos à CPI da Petrobras.
Logo pela manhã, o vice-presidente Michel Temer, responsável pela articulação política do governo, contestou a ideia levantada pela presidente Dilma Rousseff e pelo PT de que a estratégia tucana é “golpista”, como acusara a presidente em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo - o que provocou reação no mesmo tom de Aécio. Segundo Temer, “não vale a pena” levar adiante esse debate.
“Não devemos discutir esse tema (troca de acusações). A oposição existe também para ajudar a governar, mesmo quando critica. Temos que fazer uma grande unidade nacional, mais do que nunca, é necessário o pensamento conjugado dos vários setores da nacionalidade, portanto, dos vários partidos políticos, para que caminhemos juntos em benefício do Brasil. Não vale a pena levar adiante essas discussões”, disse após participar de uma solenidade na Câmara.
Na semana passada, líderes do PMDB procuraram integrantes da cúpula do PSDB para sondá-los sobre um eventual apoio dos tucanos no caso de Temer assumir o comando do governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a ser procurado por um integrante da Executiva Nacional do PMDB para saber sobre a possibilidade de uma aliança informal neste momento. Segundo um peemedebista que teve acesso às conversas, o tucano teria dito que apoiaria uma coalizão em torno de Temer. FHC nega o teor da conversa.
O próprio Aécio também já foi procurado por peemedebistas. Questionado sobre essa conversa, Aécio negou que ela tenha ocorrido e disse que o PSDB “não é golpista”.
‘Grande acordo’
O novo secretário-geral do PSDB, Silvio Torres (SP), deputado federal e ex-secretário de Geraldo Alckmin, disse que não se trata de golpe.
“O agravamento da crise econômica e o aprofundamento das investigações obriga os partidos que têm alguma perspectiva de poder a avaliar cenários. Isso não significa que estejamos preparando um golpe. Se houver renúncia ou impeachment a governabilidade só vai se restabelecer se houver um grande acordo. É isso que está sendo avaliado por todos os partidos”, afirmou Torres.
As articulações entre PMDB e PSDB também ocorreram na Câmara dos Deputados. Os dois partidos negociaram a pauta de votações da sessão da CPI da Petrobrás. Ficou decidido que, nas palavras do presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), “será votado tudo”. A ideia é incluir no rol de requerimentos as convocações dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secom) para prestarem esclarecimentos sobre as citações a ambos na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC.
Edinho, segundo Pessoa, teria pressionado para que a empreiteira fizesse doações para a campanha de Dilma em 2014. O ministro, que era tesoureiro da então candidata, nega. Sobre Mercadante, Pessoa apresentou à Procuradoria-Geral da República documento que cita repasse de R$ 250 mil à campanha do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ao governo de São Paulo em 2010. No documento entregue pelo empresário, o pagamento a Mercadante aparece ao lado da informação “eleições de 2010”. O ministro nega que sua campanha tenha recebido recursos não contabilizados.
Além deles, constam ainda na pauta outros requerimentos que, uma vez aprovados, visam constranger os petistas. Caso dos que pedem ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci e até mesmo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos bastidores de Brasília, depoimentos de ministros em CPIs costumam fazer parte dos processos de “fritura política” que quase sempre culminam na demissão dos depoentes.
Também nessa quarta-feira (8), em outra frente, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu em sua residência oficial o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), para um almoço.
Oficialmente, trataram das propostas em discussão no Congresso que reveem o pacto federativo. O pacote de propostas está sendo discutido em uma comissão da Câmara e do Senado e contraria interesses do governo, uma vez que a ideia central é desconcentrar recursos da União e transferi-los aos Estados e municípios.
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