Numa lista com 436 requerimentos protocolados, PMDB e PSDB queriam focar nas convocações dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), além de Cardozo e Dirceu. Também havia requerimentos disponíveis para votação contrários aos interesses do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a oposição descartou convocá-lo ou quebrar seus sigilos, pelo menos por enquanto.
O Planalto rechaçava a convocação de Mercadante e Edinho porque isso simbolizaria a exposição direta da presidente Dilma Rousseff. Na avaliação do governo, os ministros também não teriam o que explicar à comissão porque desconhecem o conteúdo da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC. O Palácio avisou à CPI que, se os ministros fossem chamados, outros nomes citados por Pessoa também teriam de entrar na lista.
Cardozo, por sua vez, é visto como uma figura bem articulada e capaz de se sair bem no interrogatório dos parlamentares. Portanto, se alguém teria de ir para o "sacrifício", o ministro da Justiça seria "um custo menor", avaliou o governo.
O relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse acreditar que Cardozo se sairá "muito bem". A justificativa oficial para a convocação foi a de que o ministro falará sobre supostas escutas instaladas na cela do doleiro Alberto Youssef sem autorização da Justiça. Ainda não foi definida data para o depoimento.
A convocação ocorre num momento em que Cardozo sofre pressões internas de seu partido, o PT, por causa das investigações da Polícia Federal.
Insatisfeitos com a condução dos trabalhos da Polícia Federal e, em especial, com a impossibilidade de Cardozo frear as investigações, os petistas não devem fazer o menor esforço para blindá-lo no depoimento.
A expectativa é de que Cardozo defenda seus policiais e os rumos da Lava Jato, o que tende a irritar seus colegas de partido.
A previsão é de que a oitiva do ministro ocorra em agosto. Se houver recesso branco, o depoimento pode ser neste mês.
"Não estou aqui nem para proteger nem para perseguir. O ministro Cardozo é preparado e não tenho dúvida nenhuma de que ele vai se sair muito bem e esclarecer os pontos que hoje mais da metade dos membros da CPI estão questionando quanto à legalidade ou não da operação", disse o relator.
O ministro da Justiça foi consultado durante as negociações e informado de que em algum momento teria de falar à CPI sobre a condução das investigações da Operação Lava Jato. "Não vejo nenhum problema em comparecer à CPI. Se eu puder colaborar de alguma forma para a elucidação dos fatos, eu o farei.
Comparecer ao Parlamento é sempre uma honra para mim", disse Cardozo.
Preocupação
Além da salvaguarda a Mercadante e Edinho, os petistas queriam evitar, a qualquer custo, a convocação de Dirceu. A cúpula da CPI foi informada de que Dirceu está deprimido, desesperado com os desdobramentos das investigações e com medo de ser preso novamente. Alguns acreditam que, se for encarcerado mais um vez, o ex-ministro da Casa Civil de Lula não será capaz de se segurar, como fez no mensalão, porque já não acredita mais no projeto de poder do PT. "Ele está desgovernado", relatou um integrante da CPI.
Em recurso - agravo regimental - ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), os advogados de Dirceu recorreram em busca de habeas corpus para evitar a prisão do ex-ministro. A defesa cita até o ex-presidente Lula no recurso. "Tamanho o receio que as pessoas se encontram, haja vista os métodos investigatórios ultimamente empregados pela Operação Lava Jato, que até mesmo o sr. ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva disse estar temeroso de que será, também, provavelmente, o próximo alvo da referida operação, não obstante sequer seja um dos investigados nos procedimentos."
O PMDB abriu mão de Mercadante e Edinho, mas os tucanos queriam Dirceu. Tanto que a convocação do ex-ministro foi colocada como primeiro item da pauta de votações para evitar manobras. Segundo relatos, Luiz Sérgio apelou para que Dirceu fosse poupado.