Brasília – Em mensagem cifrada a uma ala do PT mais ligada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou ontem, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que, enquanto estiver à frente da pasta, não vai controlar ou instrumentalizar investigações. Ele tem sofrido críticas dentro do partido “por ter perdido o controle da Lava-Jato e permitir vazamentos seletivos”. Cardozo disse que, enquanto estiver no Ministério da Justiça, guardando estrita consonância com a orientação da presidente da República, “nunca atuará na perspectiva de controlar ou direcionar investigações”.
Questionado, disse que não se sente injustiçado pelo PT. “Recebi manifesto de deputados da minha bancada. Vi que algumas pessoas estão insatisfeitas. Não creio que eu tenha errado na condução da Polícia Federal. Claro que existem críticas. Sigo o meu rumo, ditado pela minha consciência”, salientou.
Em relação às escutas encontradas na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção na Petrobras, Cardozo afirmou que, se comprovada, a ilegalidade consistirá em ato gravíssimo. O ministro informou que há sindicância em andamento. “Escutas ilegais jamais podem ser feitas, e aí, podem ter absoluta certeza de que, se ficar comprovado, pouco importando a razão, haverá punições, sim, àqueles que as praticaram”, assegurou. Um delegado e um agente da Polícia Federal informaram ao colegiado que as escutas encontradas na cela da corporação em Curitiba estavam ativas.
A oposição teme que a comprovação da ilegalidade na coleta de provas possa anular toda a operação. O ministro comunicou que também há uma investigação em curso para apurar a instalação de uma outra escuta no fumódromo da Polícia Federal de Curitiba e ressaltou que a sindicância deve ser concluída em breve.
Sobre o encontro entre Dilma, ministros e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, na cidade do Porto, em Portugal, Cardozo repetiu a versão oficial. Afirmou que, na reunião, o assunto foi apenas o reajuste do Judiciário, e a Lava-Jato não entrou na pauta. Ele defendeu reuniões com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e também com advogados da empresa Odebrecht, envolvida na Lava-Jato. “Só na ditadura não se poderia receber advogados. Faz parte da minha atribuição”, afirmou.
VAZAMENTOS O ministro também ressaltou que há inquéritos em andamento para apurar o vazamento de informações sigilosas da Operação Lava-Jato. Comunicou que Janot também pediu apuração para investigar a divulgação da delação premiada do dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa.
“Acho lamentável que muitas vezes algumas pessoas são atingidas em sua honra”, afirmou. Ele lembrou que as delações premiadas não são “sentenças condenatórias” e que os delatores podem mentir. “O que eles dizem não tem valor probatório”, destacou.