"Eu paguei em depósitos ao Alberto (Youssef) no exterior, paguei através de operações com a GFD (empresa de fachada do doleiro) e fiz pagamentos diretos às empresa do senhor Fernando Soares", afirmou Julio Camargo, em depoimento na manhã desta quinta-feira, ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava-Jato.
Camargo afirmou que o deputado tinha US$ 5 milhões a receber de um total de US$ 10 milhões restantes da propina a serem pagas por dois contratos de navios-sondas, para exploração de petróleo em águas profundas, assinados em 2006 e 2007 pela coreana Samsung em parceria com a japonesa Mitsui.
"Eu chamei o Alberto, com quem eu tinha relacionamento de confiança, e, se não me engano, até pedi se ele conhecia o deputado Eduardo Cunha porque eu estava com problema com o deputado", afirmou Julio Camargo, que disse que teve de se organizar para efetivar os pagamentos.
"O deputado Eduardo Cunha não aceitou que eu pagasse somente a parte dele. Ele disse: 'olha Julio, eu não aceito também que você faça uma negociação para pagar só a minha parte. Você pode até pagar o Fernando mais dilatado. O meu eu preciso rapidamente, mas eu faço questão de você incluir no acordo aquilo que você ainda falta pagar o Fernando", detalhou o delator.
"Aí chegou entre 8 e 10 milhões de dólares", confessou Julio Camargo ao juiz Sérgio Moro.
Caminho do dinheiro
Julio Camargo foi questionado pelo juiz da Lava Jato se ele poderia identificar os pagamentos de propina feitos após a pressão exercida pelo presidente da Câmara. Todos os dados foram apresentados à Procuradoria Geral da República, em forma de planilha, onde corre inquérito em que Cunha é investigado.
"Fiz três depósitos indicados pelo senhor Alberto Youssef, 20 de outubro de 2011, através da minha empresa Vigela para uma empresa indicada por ele que chama RFY e outra de nome DGX. São dois pagamentos de US$ 2,3 milhões e outra de US$ 400 mil."
"Depois pagamentos efetuados à empresa do Fernando, uma de nome Technis no valor de US$ 700 mil, e outra, vários pagamentos, nove pagamentos, para empresa dele de nome Hawk Eyes, no valor total de US$ 3,2 milhões", informou.
O lobista disse que o restante foi pago em reais no Brasil via investimentos em empresas do doleiro Alberto Youssef. "Pagamentos que eu fiz ao senhor Alberto e ele pagou Fernando Soares."
Perguntado se efetivamente foi beneficiário do esquema, Julio citou Fernando Baiano, o presidente da Câmara e ele próprio.
Processo
Julio Camargo foi ouvido como réu no processo em que o ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e Fernando Baiano - braços do PMDB no esquema de desvios na Petrobras - são acusados pelo recebimento de US$ 30 milhões na contratação de dois navios-sonda, firmados em 2006 e 2007.
O doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava Jato, há havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos "destinatários finais" da propina de cerca de R$ 4 milhões operacionalizados por ele nesses contratos feitos pelo grupo Samsung em parceria com a Mitsui.
"Quando o senhor conversou com Julio Camargo ele falou quem eram os beneficiários das operações? Ou ele só falou no Fernando Soares?", perguntou o magistrado. O doleiro respondeu: "Falou no Fernando Soares e contou a história da pressão que o Eduardo Cunha estava fazendo para que ele pudesse pagar o Fernando Soares, dando entendimento que esse valor fosse também na época para o deputado."
Mais tarde, questionado pelo seu advogado sobre quem seriam os "destinatários finais" desta propina, Youssef reiterou ter ouvido de Camargo que eram "Fernando Soares e Eduardo Cunha".
O presidente da Câmara vem negando com veemência o envolvimento no esquema de desvios na Petrobras.
A Mitsui & Co. afirmou que o sr. Júlio Camargo "nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa.".