A primeira investida foi ontem. Pouco depois de anunciar o rompimento com o governo, Eduardo Cunha leu no plenário a autorização para a criação de duas comissões parlamentares de inquérito: uma para investigar empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outra para apurar supostas irregularidades nos fundos de pensão de estatais. Os dois requerimentos de criação de CPI estavam atrás na lista de espera de instalação. A do BNDES estava em sétimo, e a dos fundos de pensão, em oitavo. Apenas cinco comissões podem funcionar ao mesmo tempo.
Já para o mês que vem, Eduardo Cunha prometeu incluir na pauta a votação do projeto que dobra a remuneração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – passando da atual regra de 3% ao mês mais TR, para 6,71% mais TR. O governo bem que tentou convencer o peemedebista a enterrar a proposta com o argumento que poderia inviabilizar a terceira etapa do programa Minha casa, minha vida, já que recursos do FGTS são usados para custear juros subsidiados de financiamentos de setores de habitação, saneamento e infraestrutura.
O setor da construção civil se uniu ao governo federal na luta contra a proposta, com a sugestão que parte do superávit do FGTS fosse dividida entre os trabalhadores. Mas o máximo que eles conseguiram foi adiar a votação do último dia 7 para a primeira semana de agosto.
A estrutura do governo também será alterada, no que depender do projeto apresentado por Eduardo Cunha e que reduz o número de ministérios dos atuais 38 para 20. Embora tenha sete cargos no governo, além da vice-presidência, o PMDB encampou a matéria, com a justificativa de forçar o Executivo a adotar medidas de economia no momento em que o país passa por um ajuste fiscal. O projeto não determina quais seriam as pastas cortadas, nem quando.
Pacto federativo As queixas de estados, e especialmente dos municípios, de concentração de recursos nas mãos da União também poderão ser tratadas na Câmara. Entre os textos que tratam do chamado pacto federativo, está uma que impede o governo federal de transferir encargos para os demais entes da Federação sem apresentar fonte de recursos. Cunha também pretende centrar forças na discussão sobre a instituição do parlamentarismo no Brasil, de forma que o sistema entre em vigor em 2019, na sucessão a Dilma.
Uma eventual reforma na legislação da contribuição do PIS/Pasep e da Cofins, defendida pelo governo, só será aprovada na Casa se o governo mostrar que não haverá aumento de carga tributária. “Se for aumento de carga disfarçada, não passará”, afirmou Eduardo Cunha na quinta-feira. A expectativa é que o governo deve mandar projeto alterando as leis que tratam dos tributos no retorno do recesso parlamentar.
Pedido de afastamento
Brasília – Logo após o encerramento da entrevista coletiva do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o vice-líder do governo na Casa, deputado Sílvio Costa (PSC-PE), aproveitou os jornalistas reunidos para anunciar que vai pedir o afastamento do peemedebista. “Peço o afastamento temporário de Cunha pela tranquilidade do Parlamento”, disse, ressaltando que vai se reunir com juristas para saber se “cabe um impeachment” do presidente do Legislativo. Depois de afirmar que não falava em nome do governo, Costa disse que, embora tenha a seu favor a presunção legal de inocência, Cunha “perdeu as condições morais de ficar à frente da Câmara”. Para o deputado, quando se afastar do cargo, o peemedebista “mostrará que não tem apego ao poder”.
Já o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães, tentou amenizar o clima de enfrentamento que toma conta do Congresso. Segundo ele, apesar das declarações de Cunha, o governo “vai continuar a relação com o PMDB”, porque “a aliança é com o PMDB e não com as pessoas”. E emendou: “Essa aliança com o PMDB, sob o comando do presidente Michel Temer, é fundamental para a governabilidade e para as vitórias que nós temos tido no Congresso”. Depois de lembrar que os poderes são independentes e autônomos, Guimarães ressaltou que o momento é de manter a tranquilidade para tratar a situação. “Não podemos aumentar nossos batimentos cardíacos por isso.”
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirmou que respeita a posição de Cunha, mas contrariou o correligionário ao dizer que “não é o momento” para romper com Executivo. Para ele, o país vive uma “inversão de valores”. “O demérito não é ser investigado, o demérito é ser condenado.”
Além do vice-presidente da República, Michel Temer, o PMDB tem forte presença no primeiro escalão federal com os ministros da Agricultura, Kátia Abreu; do Aviação Civil, Eliseu Padilha; dos Portos, Edinho Araújo; do Turismo, Henrique Eduardo Alves; da Pesca, Helder Barbalho; e de Minas e Energia, Eduardo Braga.