Deputado expõe bastidores do Legislativo e diz que colegas se vendem

Sargento Rodrigues acusa parlamentares de negociar cargos, fazer "barganhas nojentas" e usar o trabalho na ALMG como bico

Alessandra Mello

Deputado Sargento Rodrigues - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Em um texto publicado em sua página pessoal na internet e também nas redes sociais, o deputado Sargento Rodrigues (PDT), rasgou o verbo contra colegas de Parlamento e expôs, em um arroubo de sinceridade, os bastidores do legislativo. O parlamentar, que exerce seu quinto mandato consecutivo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que integrou a base dos governos tucanos e hoje faz parte da oposição,  afirma que muitos não aparecem para trabalhar e mesmo assim recebem seus vencimentos integralmente, fazem lobby e “barganhas nojentas”, negociam cargos e favores junto ao governo, deixando de lado o interesse da coletividade e se prostituem em troca de benesses, marcam agenda com representantes do Executivo de aparecem e surpresa com empresários a tiracolo, transformam a atividade parlamentar em “bico” e votam projetos pensando muitas vezes na melhor forma de tirar “proveito do Executivo”.

Sargento Rodrigues afirma que uma das coisas que mais o incomodam nesses anos de trabalhos na ALMG é o deputado que faz “bico” do exercício da atividade parlamentar e o fato de eles não serem obrigados a marcar presença. “O que faz com que ele vá à Assembleia na hora e no dia em que ele bem entender. A obrigação de votar ou não uma matéria está atrelada ao seu “bel -prazer”, ou melhor, de que forma vou tirar proveito em votar com o Poder Executivo ou não”, afirma o parlamentar. Rodrigues se elegeu deputado pela primeira vez em 1998, depois de despontar como um dos líderes da greve da Polícia Militar em 1997, e foi nas eleições passadas o quinto deputado mais bem votado do estado, com 98,8 mil votos.

“Quem não gostaria de ter um ‘bico’, leia-se atividade paralela com imunidade parlamentar, e ao mesmo tempo receber R$ 25.322 todo mês, sem nenhum desconto por atraso ou falta ao trabalho?”, questiona o parlamentar se referindo ao salário mensal dos deputados estaduais mineiros. O deputado é autor de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê o corte de R$ 2.110 no salário dos deputados para cada uma das sessões legislativas, que ocorrem toda terça, quarta e quinta-feira, que ele não comparecer. O regimento interno já prevê o corte por faltas, mas ele nunca é feito.

No texto, batizado de Legislar ou prostituir, o deputado revela também como funciona o lobby em favor de empresários. Segundo ele, os parlamentares pedem para a secretária marcar uma agenda com o governador ou com secretários de Estado e levam algum empresário junto.
“Quem pediu a agenda foi o deputado, mas quando adentra a sala da autoridade, quem entra é dono do ramo de um negócio, é o detentor de uma atividade econômica que necessita de uma mãozinha ou um empurrãozinho em sua atividade principal”. Segundo ele, esse tipo de deputado não está preocupado em bater ponto na ALMG. “Aliás, para que se preocupar em bater ponto, pois o salário de deputado é uma migalha comparado ao seu principal ramo de negócio ou atividade.”

Diz ainda que muitos parlamentares se elegem “para abrir portas que só o poder econômico não abriria” ou garantir imunidade em caso de processos criminais. “E ainda tem aqueles que buscam, além de abrir portas com o mandato parlamentar, vestir a capa da imunidade que o mandato tem”, afirma em outro trecho do texto postado sexta-feira (17) e que, até a tarde dessa segunda-feira (20), tinha meia centena de compartilhamentos e outra de comentários, muitos com elogios ao ataque de sinceridade do deputado.

Veja o que o deputado Sargento Rodrigues falou dos parlamentares


“O que se vê na prática é a forma mais nojenta de se vender no dia a dia, não importa qual seja o projeto, importa de quem é a autoria. Ou seja, o governador mandou votar, vota-se! Bom, mas votar em troca de quê? Em que posso ser beneficiado se votar esse projeto a favor do governo?”

“Nesse emaranhado de interesses, cada um adota uma postura de trabalho que se encaixe melhor em seus propósitos, uns republicanos, outros nem tanto e alguns,
de forma muito escancarada, adotam o ‘trabalho’ parlamentar como
se fosse uma atividade paralela, ‘bico’”

“As barganhas são nojentas. À medida que os interesses da coletividade são deixados em último plano, dá-se preferência àquelas que vão lhe render algum favor ou cargo junto ao governo do estado”

“Quem não gostaria de ter um ‘bico’, leia-se atividade paralela com imunidade parlamentar, e ao mesmo tempo receber R$ 25.322 todo mês, sem nenhum desconto por atraso ou falta ao trabalho?”

“Ele pede à sua secretária para marcar uma agenda com o governador ou secretário. Quem pediu a agenda foi o deputado, mas quando adentra a sala da autoridade quem entra é dono do ramo de um negócio, é o detentor de uma atividade econômica que necessita de uma mãozinha ou um empurrãozinho em sua atividade principal”

“Enquanto a Assembleia não descontar no salário do deputado que faltar às sessões ordinárias, vamos assistir todos os meses aos deputados recebendo o salário sem ao menos cumprir com suas obrigações de comparecer às sessões plenárias às terças, quartas e quintas-feiras”.