O ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) acredita que o afastamento do correligionário Eduardo Cunha da presidência da Câmara seria prudente em um momento de turbulência política e econômica, que vem sendo acentuado pelos recentes acontecimentos envolvendo o parlamentar, principalmente depois que ele rompeu com o governo de Dilma Rousseff (PT). "A posição dele ficou muito delicada", disse o político gaúcho.
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Longe de Brasília desde janeiro, quando encerrou seu quarto mandato como senador, Simon, de 85 anos, tem se dedicado a participar de palestras e seminários em diferentes cidades brasileiras. Ele reconhece que acompanha o cenário político à distância, mas descarta que a atitude de Cunha, de caráter pessoal, provoque uma ruptura do PMDB com o governo petista, e diz que a prioridade, neste momento, deve ser a busca de um entendimento entre os diferentes agentes políticos para enfrentar a crise vivida pelo Brasil.
"Não há uma pauta (comum).
Ele cita como exemplo os movimentos sociais que eclodiram em 2013 e hoje perdem força justamente pela dificuldade de encontrar um denominador comum. De acordo com o ex-senador, o próprio Eduardo Cunha perdeu a oportunidade de conduzir um processo que levasse a uma reforma política mais próxima do que a população esperava. "Estive no Senado por 32 anos e nunca vi o Congresso com tamanha disposição de fazer reformas.
Fator Temer
Simon lembra que desde o início do segundo mandato de Dilma, quando já havia sinais de que o cenário político seria desafiador, defendia que a presidente buscasse apoio em diferentes partidos e setores para criar um ambiente mais favorável ao País. O papel conciliador, segundo ele, tem sido desempenhado principalmente pelo vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer. "Ele está tendo uma atitude de bom senso, de equilíbrio", afirmou. "A Dilma tinha que tomar uma posição, fazer um chamamento para que a coisa fosse adiante. Caso contrário, ela pode ficar como uma marionete, para lá, para cá, sem dizer nada."
Embora sustente há anos a ideia de que o PMDB tenha independência e candidato presidencial próprio - nas eleições de 2014 o ex-senador apoiou Marina Silva, que concorria pelo PSB -, Simon é contra uma ruptura com o governo no curto prazo. "O momento é de saída da lama em que nos encontramos. Ninguém está ganhando com isso, nem o PSDB.
A opinião coincide com as recentes declarações de Temer. Nesta terça-feira, 21, ao participar de um evento em Nova York, o vice-presidente disse que pode ocorrer "um dia" de o PMDB deixar o governo, especialmente se tiver candidato em 2018. "É uma questão que será examinada daqui para frente", falou nos EUA.
Segundo Simon, os desdobramentos da operação Lava Jato e a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) com relação à aprovação ou reprovação das contas do governo federal em 2014 tendem a tornar o ambiente em Brasília ainda mais turbulento, mas caberá a Temer "acalmar o PMDB" e "fazer o entendimento geral"..