Apesar de ter assumido nessa terça-feira um tom mais brando em relação ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mostrou que não vai arrefecer na sua queda de braço com o Executivo, ao qual atribui responsabilidade sobre as denúncias que pesam contra ele por envolvimento no esquema de desvios de recursos da Petrobras. Em seu inferno astral desde a divulgação, na semana passada, do depoimento em que o consultor Júlio Camargo o cita como beneficiário de propinas, Eduardo Cunha deu um passo atrás em seus ataques e seguiu a linha mais conciliadora do vice-presidente Michel Temer (PMDB), concordando que seu rompimento com o Planalto é apenas uma “crisezinha”. No entanto, voltou a defender a ruptura do PMDB com o governo, desta vez com o reforço do vice, que admitiu, em Nova York, a possibilidade de que isso ocorra caso o partido decida lançar candidato à Presidência da República em 2018.
Para Cunha, assim como defendeu Temer, também articulador político do governo Dilma Rousseff, falar em crise institucional é exagero. “O termo crise institucional é muito forte, muito duro. Ele (Michel Temer) tem razão, não está diminuindo o papel de nenhuma situação”, disse. Depois da explosão da semana passada, o deputado evitou falar de seu suposto envolvimento no esquema da Petrobras. “Só falo de política. Se quiserem informações, procurem o Dr. Fernando”, disse, referindo-se a seu advogado, Antônio Fernando de Souza.
Apesar do tom mais conciliar, Cunha usou os resultados da pesquisa CNT/MDA, que revela que 62,8% dos brasileiros querem o impeachment da presidente Dilma Rousseff (leia mais na página 4), para defender a saída do PMDB da base aliada. “A gente vê que realmente alguma coisa tem que ser mudada. É por isso que o PMDB tem que rever essa posição (de continuar na base)”, disse. Segundo o peemedebista, o tema foi tratado em conversa com o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), em um almoço para avaliar o novo cenário político e traçar o caminho a ser trilhado pela legenda neste semestre.
Reforço
Em viagem oficial a Nova York para vender uma agenda positiva, por sua vez, Michel Temer confirmou que o PMDB pode deixar o governo e lançar candidato próprio ao Palácio do Planalto. “Perguntaram se o PMDB teria candidato (em 2018), eu disse que sim”, afirmou, evitando comentar se ele seria o postulante do partido. “Faltam, no mínimo, três anos”, lembrou.
Em discurso na NYC Bar Association, uma espécie de ordem dos advogados local, Temer comentou a proposta de Cunha de saída imediata do PMDB do governo. “Ele (Cunha) falou que vai trabalhar muito para que o partido possa se desvincular do governo. É claro que nós, da legenda, reiteramos que a decisão é pessoal, mas o partido tem instâncias, e essas decisões são tomadas pelas instâncias partidárias. É uma questão que será examinada daqui pra frente”, afirmou. “Evidentemente que pode ocorrer, um dia qualquer, que o PMDB resolva deixar o governo, especialmente em 2018, para uma candidatura presidencial. (Com agências)
Encontro com Lewandowski
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi nessa terça-feira (21) ao gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, pedir pressa na análise de seu pedido para suspender um processo da Operação Lava-Jato conduzido pelo juiz Sérgio Moro, no Paraná. Em um depoimento ao juiz, o lobista Júlio Camargo disse que Cunha cobrou US$ 5 milhões em propinas para que diretor da Petrobras indicado pelo PMDB aprovasse a compra de navios-sonda. Cunha quer que o ministro anule provas e depoimentos relacionados a ele porque foram obtidos por juiz de primeira instância. Lewandowski solicitou dados a Moro na segunda-feira (20), mas não determinou prazo para resposta.