O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, avalia que a conjuntura política enfrentada atualmente pelo governo da presidente Dilma Rousseff "é superável". Ao ser questionado se considera que o País vive um momento de crise, ele reconheceu as dificuldades enfrentadas pelo Planalto, mas evitou citar o termo. Disse apenas que é um "momento superável e que será superado".
Um dos principais porta-vozes da presidente Dilma, Cardozo justifica a avaliação com base na ideia de que a política é feita de momento em momento. "Na política, as coisas estão sempre em fluxo. Eu me lembro que quando era perguntado, no passado, quando as pesquisas de opinião davam altíssimo índice de aprovação da presidenta, como eu via isso, minhas respostas eram as mesmas: essas são fotografias de um momento", explicou.
Apesar do momento de fraco crescimento econômico e de críticas de setores que eram aliados ao governo, exemplificados com a saída do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro acredita que as dificuldades serão superadas porque o governo está tomando medidas de forma "correta e madura". "Eu acho que é uma questão de tempo. Isso acontece em qualquer governo e decorre da conjuntura que vivemos hoje", acrescentou.
Janot
Apesar da crença no meio político de que a Operação Politeia (que teve como alvo senadores, deputados e ex-ministros) dificultará a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo, Cardozo diz que ainda é "muito cedo" para fazer avaliações desse nível. Segundo ele, o poder Executivo vai aguardar um processo interno de formação de uma lista tríplice pelo Ministério Público Federal antes de se pronunciar. "Nós ainda não terminamos nem o processo interno que vai formar a lista, que vai ser no próximo dia 5. Neste momento não podemos antecipar absolutamente nada. A partir do momento em que vier a lista, a presidente da República vai tomar uma decisão, naturalmente. Neste momento, tecer qualquer situação seria impróprio", disse.
TSE
Cardozo diz que o governo vê "com tranquilidade" a ação que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para investigar se houve abuso de poder econômico e político na campanha que reelegeu a presidente Dilma Rousseff. "A ação foi apresentada em um momento em que você tinha o resultado eleitoral e tudo se fez para tentar deslegitimar esse resultado pela oposição. Pedriam recontagem de votos, depois disseram que as máquinas eleitorais não funcionavam, que tinham distorcido o resultado. E nesse processo também se criou essa ação que está sendo conduzida pelo TSE", disse, em tom de crítica ao PSDB, partido autor do pedido de investigação. "Eu, sinceramente, não vejo nenhuma plausibilidade nesse processo. Não há absolutamente nada que possa determinar o êxito por parte da oposição nesse caso", disse.
O ministro defende que, apesar de o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, ter dito em depoimento de delação premiada que fez doações para "caixa 2" da campanha de Dilma, não houve qualquer irregularidade no processo eleitoral. "Ninguém conhece exatamente o teor de delação premiada do empresário Ricardo Pessoa. Existem matérias divulgadas pela imprensa. Não sabemos exatamente o que existe lá. Nós já vimos situações no passado em que órgãos de empresa denunciavam que estavam em delações premiadas e que depois não se confirmaram", disse.
"O que eu posso afirmar é que independentemente do que conste nessa delação premiada a campanha da presidente Dilma Rousseff foi feita com absoluta lisura. A orientação que ela deu ao tesoureiro, hoje ministro, Edinho (Silva, da Secretaria de Comunicação) foi muito clara e eu não nenhuma dúvida que ele a respeitou", completou Cardozo.
Cunha
Sobre o rompimento de Eduardo Cunha com o governo, anunciado na semana passada, o ministro repetiu que essa foi uma "postura pessoal". Contudo, Cardozo disse que o governo espera que essa decisão "não passe para o campo da institucionalidade, porque aí realmente nós teríamos uma situação profundamente equivocada".