O Ministério Público da Suíça confirma a existência de indícios de pagamentos de propinas por parte da Odebrecht e, nessa semana, encaminhou ao Brasil um pedido de cooperação na investigação.
"Com base nas descobertas feitas até agora, a suspeita é de que subsidiárias da Odebrecht pagaram propinas via contas suíças para contas de ex-diretores da Petrobras, também com contas na Suíça”, indicou o MP em um comunicado. A procuradoria deixa claro que os "indícios são de propinas".
O inquérito não foi aberto apenas contra a empresa, mas também contra seus executivos e intermediários. "O escritório do Procurador-Geral da Suíça confirma que uma de suas investigações se referem à empresa brasileira Construtora Norberto Odebrecht SA, assim como a empresas associadas e pessoas", indicou o comunicado das autoridades, sem citar o nome dos envolvidos.
Berna indicou que fez uma solicitação ao Brasil por uma assistência legal, iniciativa que chegou até Brasília na segunda-feira, 20. Isso envolve pedir que a Justiça brasileira colha o depoimento de pessoas sob suspeita e mesmo indiciados que estejam vivendo no Brasil. Os suíços ainda solicitaram à Justiça brasileira a coleta de certas evidências documentais.
Inicialmente, a Suíça já havia congelado US$ 400 milhões e identificou mais de 300 contas relacionadas ao escândalo de corrupção da Petrobras, numa das maiores iniciativas já tomadas na história do país contra dinheiro suspeito.
Berna já devolveu US$ 120 milhões ao Brasil e alerta que um total de mais de 30 bancos suíços foram usados por ex-executivos da Petrobras e fornecedores para pagar e receber as propinas.
Cerca de mil transações bancárias estão ligadas a esses desvios, o que obrigou o MP suíço a abrir inicialmente nove investigações penais por lavagem de dinheiro em relação à estatal brasileira. A meta era descobrir a origem dos recursos bloqueados e as empresas que pagaram a propina.
Agora, porém, a investigação foi ampliada e, entre as novas suspeitas, está a Odebrecht, que passou a ser investigada no caso.
Pelo menos dois ex-executivos da Petrobras confirmaram que, em suas contas na Suíça, depósitos foram feitos por parte da construtora. Um deles seria Paulo Roberto Costa que, em sua delação premiada, indicou o recebimento de US$ 20 milhões da Odebrecht. Outro é Pedro Barusco, que também indicou que foi pago pela construtora brasileira.
A suspeita é de que o intermediário desses pagamentos seja Bernardo Freiburghaus, um operador que vive em Genebra desde a eclosão do escândalo e que chegou a fazer parte da lista vermelha da Interpol. Questionado pela reportagem, ele garantiu que "não existem provas".
Freiburghaus, por ter nacionalidade suíça, não poderia ser extraditado para o Brasil. Mas o MP brasileiro já pediu que Berna colha seu depoimento e confisque seus bens.
Ampliação
Na Suíça, o MP ainda informou que o inquérito sobre a Petrobras tem levado a novas descobertas, com um número ainda maior de contas e de dinheiro suspeito. "O escândalo da Petrobras levou a um maior número de transações sob suspeita por parte de instituições financeiras suíças que, por sua vez, informaram ao Escritório de Combate à Lavagem de Dinheiro da Suíça", apontou a procuradoria.
"Depois de verificar os indícios, a procuradora abriu várias investigações em relação ao caso da Petrobras", disse.
Os suíços também constataram que as investigações revelaram que o "centro financeiro suíço foi seriamente afetado pelo escândalo, com várias pessoas e empresas que foram indiciadas ou já condenadas no Brasil conduzindo transações suspeitas usando contas na Suíça". Para Berna, a iniciativa dos procuradores tem como função, ainda, "proteger o centro financeiro suíço, exposto a riscos de reputação por incidentes como esse".
O MP lembra ainda que, em março, as autoridades do Brasil e da Suíça chegaram a um acordo para "cooperar de forma intensa e recíproca dentro das bases legais com a meta de limpar esse escândalo de corrupção e levar os perpetradores à Justiça".