Considerada uma das maiores iniciativas daquele país no combate ao dinheiro sujo, as autoridades suíças apuraram que mais de 30 de seus bancos foram usados para ocultar a origem do dinheiro. Para a Procuradoria da República do país europeu, o “centro financeiro suíço foi seriamente afetado pelo escândalo, com várias pessoas e empresas indiciadas ou já condenadas no Brasil conduzindo transações suspeitas”. Para Berna, a iniciativa dos procuradores tem como função, ainda, “proteger o centro financeiro suíço, exposto a riscos de reputação por incidentes como esse”.
No pedido recebido pelo Brasil na segunda-feira, o Ministério Público suíço solicita uma assistência legal, ou seja, que a Justiça brasileira colha o depoimento dos suspeitos e até mesmo de indiciados que estão vivendo no Brasil. Segundo as autoridades suíças, o inquérito contra a Odebrecht é apenas um dos nove instaurados até agora naquele país para apurar transações suspeitas envolvendo dinheiro da Petrobras. No
MIL TRANSAÇÕES Além de solicitar que indiciados e suspeitos sejam ouvidos, as autoridades suíças querem ter acesso a documentos que possam ajudar na apuração da lavagem de dinheiro naquele país. Desde que foram comunicados pelos investigadores brasileiros do uso da rede bancária pelos operadores do escândalo da Petrobras, os procuradores suíços analisaram cerca de mil transações bancárias que estariam ligadas a esses desvios. A meta do MP em Berna era descobrir a origem dos recursos bloqueados e as empresas que pagaram a propina. Mas foi necessária a ampliação das apurações, que encontraram um número maior de contas e transações suspeitas.
Pelo menos dois ex-funcionários da Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco, admitiram ter recebido propina da Odebrecht por meio de bancos suíços, US$ 20 milhões e US$ 87 milhões, respectivamente. Os dois são unânimes em dizer que os pagamentos foram feitos por uma empresa registrada no Panamá, a Constructora Internacional Del Sur, e com a ajuda de um economista que vive em Genebra, Bernardo Freiburghaus.
Freiburghaus é suspeito de ser o intermediário dos pagamentos, já que é um operador que vive em Genebra desde a eclosão do escândalo e que chegou a fazer parte da lista vermelha da Interpol. Por ter nacionalidade suíça, ele não poderia ser extraditado para o Brasil. O economista diz que não “existem provas” contra ele. O Ministério Público do Brasil, entretanto, já pediu que os suíços colham seu depoimento e confisquem seus bens. A Odebrecht diz que nunca pagou propina para facilitar seus negócios na Petrobras e afirma não ter relação com a empresa no Panamá e Freiburghaus.
Fora do contexto
A Odebrecht disse ser “natural” a abertura de um processo de investigação na Suíça. O motivo, avaliou a empresa em nota, é “a grande repercussão do tema no Brasil, decorrente do vazamento de informações com interpretações distorcidas e descontextualizadas”. A empresa disse que tem todo o interesse em esclarecer o assunto. “A Odebrecht contatará as autoridades suíças para entender o alcance das investigações.”