O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava-Jato, concedeu mais quatro dias para a defesa do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, explicar as anotações que aparecem no celular do executivo. O prazo se encerrava nesta quinta-feira.
As anotações no aparelho do executivo levantaram suspeitas da Polícia Federal. Odebrecht mencionou termos como "dissidentes PF" e "trabalhar para parar/anular" a investigação. "Defiro o requerido, estendendo o prazo para 27/07, determinou Moro.
Na petição encaminhada à Justiça Federal, os advogados Dora Cavalcanti e Augusto de Arruda Botelho, que defendem Marcelo Odebrecht, alegam não tinham conhecimento das anotações que estavam arquivadas no aparelho pessoal do executivo. "O prazo assinalado, a toda evidência, não pode ser cumprido, na medida em que os esclarecimentos a serem prestados versam sobre anotações que estariam armazenadas em telefone do peticionário, e das quais a defesa jamais teve conhecimento - razão pela qual, por óbvio, delas não pode tratar sem no mínimo antes conversar com Marcelo", afirmam os advogados.
Para a Polícia Federal, há indícios de que o empresário, preso desde 19 de junho, lançou mão de uma estratégia de confrontar as investigações da Lava-Jato, buscando criar "obstáculos" e "cortinas de fumaça", que contaria com "policiais federais dissidentes", dupla postura perante a opinião pública, apoio estratégico de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ataques às apurações internas da Petrobrás.
"O trecho mais perturbador é a referência à utilização de 'dissidentes PF' junto com o trecho 'trabalhar para parar/anular' a investigação", alerta o juiz da Lava-Jato no despacho em que intima a defesa do empreiteiro. Para Moro, "sem embargo do direito da defesa de questionar juridicamente a investigação ou a persecução penal, a menção a 'dissidentes PF' coloca uma sombra sobre o significado da anotação".