Jornal Estado de Minas

Força-tarefa do MP na Lava-Jato reforça indícios de que Cunha recebeu propina


Brasília – A força-tarefa do Ministério Público na Operação Lava-Jato reforçou nessa quinta-feira que o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) era destinatário de propinas na contratação de navios-sondas da Petrobras. A acusação foi usada para contextualizar alegações finais apresentadas nessa quinta-feira ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, em que os procuradores pedem a condenação do ex-diretor de Internacional da estatal Nestor Cerveró, dos lobistas Fernando “Baiano” Soares e Júlio Camargo e do doleiro Alberto Youssef. Os dois últimos fizeram acordo de delação premiada com os investigadores.

Segundo Camargo, foram pagas US$ 40 milhões em propinas para viabilizar a construção de dois navios da Samsung Heavy Industries, nos quais a Petrobras pagou US$ 1,2 bilhão. Uma parte do dinheiro ficou com Cerveró e “Baiano”, segundo os nove procuradores da força-tarefa. “Apurou-se que parte do dinheiro da propina também era destinada ao deputado federal Eduardo Cunha”, apontam eles.

Os procuradores ainda mencionaram o interrogatório em que Camargo disse que o deputado, após pressão de Baiano, cobrou US$ 5 milhões como quinhão nos subornos do esquema. “Conforme exposto no último interrogatório deste processo, Júlio Camargo passou a sofrer diversas pressões de Fernando Soares, o qual agia em nome de um dos agentes políticos destinatários finais da propina das sondas.” A parte referente ao parlamentar é investigada no Supremo Tribunal Federal (STF).

Corrupção Nas alegações finais, o Ministério Público Federal pediu a condenação de Cerveró e Baiano por corrupção e lavagem de dinheiro. Os procuradores pedem que Camargo seja condenado ainda por crime contra o sistema financeiro nacional. Para Youssef, querem apenas a condenação por lavagem.
O MPF pede que a Justiça determine que os réus paguem R$ 296 milhões, sendo R$ 140 milhões para devolver os ganhos com a corrupção e mais multa de R$ 156 milhões. O dinheiro deverá ser pago à Petrobras, ao sistema financeiro e ao Judiciário.

A contratação das sondas ocorreu em 2006 e 2007. Os contratos foram precedidos por reuniões entre Cerveró, Baiano e Camargo na Petrobras, segundo e-mails e registros de entrada na sede da empresa coletados pelos investigadores da Polícia Federal e do MPF. Para eles, não houve competitividade na escolha dos navios e a decisão de comprá-los foi feita a partir de pedido da Samsung, que se associou à Mitsui para fazer a primeira sonda.

Os procuradores exibiram comprovantes de pagamento de Camargo para Baiano feitos na Suíça. Eles obtiveram documentos mostrando que, de lá, o dinheiro seguiu para contas de Cerveró na Suíça, registradas com o nome de Forbal Instments inc. e Russell Advisors.

Inocência A defesa de Cerveró disse ao Estado de Minas que os depoimentos dos delatores inocentam o ex-diretor da Petrobras eteriam dito que o beneficiário final do dinheiro seria Cunha. O deputado e seu advogado, Antônio Fernando de Souza, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.
O parlamentar já disse que Camargo mentiu na delação e o desafiou a provar as acusações. Camargo e Youssef fecharam acordo de delação premiada e confessaram os crimes narrados na denúncia em troca de uma redução de penas. O advogado Nélio Machado, que defende Fernando Baiano, não retornou aos recados da reportagem ontem em seu escritório e celular. Ele já pediu que o juiz Sérgio Moro seja impedido de julgar o caso por considerá-lo suspeito e parcial. Machado ainda pediu a anulação dos acordos de delação. Procurada, a Samsung não se manifestou.

Os pedidos

Recuperação do dinheiro de propina recebida e pagamento de multa pelos réus: R$ 296 milhões

Manutenção da prisão dos réus mesmo que recorram

 

Condenação de Nestor Cerveró (foto) por dois atos de corrupção passiva agravada e 64 atos de lavagem de dinheiro

Condenação* de Júlio Camargo por dois atos de corrupção ativa, 64 de lavagem e 7 atos de crime contra o sistema financeiro nacional

 

Condenação de Fernando Baiano (foto) por dois atos de corrupção passiva agravada e 64 atos de lavagem de dinheiro

Condenação* de Alberto Youssef, por 17 atos de lavagem de dinheiro

*Camargo e Youssef fecharam acordo de delação premiada. O primeiro está recolhido em casa e, se condenado, ficaria em regime de prisão domiciliar, a depender do entendimento do juiz. Youssef já está preso por condenações da Lava-Jato, limitadas a um período de três anos, conforme seu acordo

 

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