Brasília – As investigações do Ministério Público Federal (MPF) que descortinaram um megaesquema de corrupção na Petrobras revelaram, também, a vida de alto padrão que envolvidos no esquema tinham. Em alguns casos, presentes de luxo eram a forma encontrada para ocultar valores desviados da petroleira. Como uma Land Rover avaliada em R$ 200 mil, dada pelo suposto operador de propinas do PMDB Fernando “Baiano” Soares para o ex-diretor internacional da estatal Nestor Cerveró.
“Expediente utilizado por Fernando Soares para a ocultação/dissimulação da origem criminosa dos valores que repassava a Nestor Cerveró era o oferecimento de 'presentes' ao ex-diretor da estatal", sustenta a força-tarefa da Operação Lava-Jato, nas alegações finais da ação penal em que o ex-diretor e o operador, supostos elos do PMDB na estatal, respondem pelo recebimento de US$ 40 milhões, por dois contratos de navios-sonda da Petrobras.
Segundo o MPF, “em 27 de julho de 2012, o acusado Fernando Soares, para encobrir o pagamento de vantagem indevida devida a Nestor Cerveró, negociou e comprou, em favor de Cerveró e de sua esposa, Patrícia, o veículo Land Rover Evoque Dynamic 5D”. Para os procuradores, não há dúvidas de que o veículo nunca foi pago pela mulher de Cerveró, como sustentou a defesa do casal, quando ele foi preso em janeiro.
O automóvel foi registrado em nome da mulher do ex-diretor da Petrobras, “mesmo tendo sido Fernando Soares o responsável pelo pagamento”, diz o MPF, no pedido de condenação dos acusados por corrupção e lavagem de dinheiro. Para tentar ocultar a origem e a propriedade dos valores movimentados para Cerveró e para o próprio patrimônio de Fernando Baiano, a procuradoria informa que existem “diversas provas que indicam a utilização” de duas empresas de fachada. A residência de Baiano no Rio é citada como exemplo: uma cobertura de luxo em nome de uma companhia que só existia no papel.
Até agora, a força-tarefa da Operação Lava-Jato conseguiu recuperar R$ 870 milhões dos recursos desviados da Petrobras bloqueados dentro do Brasil. De acordo com números divulgados ontem pela força-tarefa que atua no caso, R$ 484,74 milhões foram repatriados para o Brasil. Na saída da entrevista coletiva em que anunciaram a denúncia contra executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, os procuradores prometeram mais. “Fechamos essa denúncia pensando na próxima”, afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Até o momento, 125 pessoas foram acusadas criminalmente pelo Ministério Público e trinta pessoas já foram condenadas.