A bancada petista na Câmara dos Deputados deve acirrar ainda mais o clima de tensão entre o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o Palácio do Planalto ao retornar às atividades em agosto. Em seminário do PT com a participação de presidentes e secretários municipais da legenda, em Belo Horizonte, líderes do partido criticaram o peemedebista e afirmaram que sua condição à frente da Câmara deverá ser questionada no retorno dos trabalhos do Legislativo.
O deputado Reginaldo Lopes (PT) considerou a atuação do presidente da Câmara no primeiro semestre um desastre e afirmou que sua destituição deverá entrar na pauta dos deputados. “Se as matérias que propôs tivessem sido concluídas, teríamos um caos no Brasil. Não são matérias contrárias ao governo, mas contrárias ao país. Como nosso sistema é bicameral e os temas ainda precisam passar pelo Senado não voltamos para o século 19”, criticou o deputado, citando as propostas de terceirização e redução da maioridade penal, que tiveram apoio do peemedebista.
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Presente no evento, o presidente da legenda, Rui Falcão, preferiu amenizar as hostilidades com Cunha, mas ressaltou que a posição radical do parlamentar foi “isolada pelo PMDB” e que ele não representa o partido. Durante a reunião, os petistas falaram de um “momento de dificuldade e crise” enfrentado pelo país, com críticas à política econômica adotada pelo Planalto no primeiro semestre.
Rui Falcão ressaltou que grupos dentro do partido defendem uma mudança na política econômica e pedem a redução na taxa de juros e o retorno de investimentos em infraestrutura e ampliação do crédito.
Antes do recesso parlamentar, deputados do Psol divulgaram um documento pedindo o afastamento de Cunha, mas não houve adesão oficial de outros partidos. O pedido pela saída do peemedebista da presidência foi feito um dia após a divulgação do depoimento do lobista Júlio Camargo na Operação Lava-jato. Segundo o lobista, Cunha teria pedido propina de US$ 5 milhões referentes a contratos de navios-sonda da Petrobras. O presidente da Câmara disse ter sido vítima de uma retaliação do Palácio do Planalto, que teria pressionado o Ministério Público e a Polícia Federal.
“Não cogito afastamento”
Apesar de receber duras críticas de deputados e na mira da Procuradoria-Geral da República (PGR), o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já descartou se afastar do comando da Câmara mesmo se for denunciado por envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. “A eventual denúncia, se ocorrer, terá de ser apreciada pelo plenário do STF. Não cogito qualquer afastamento”, disse Cunha na sexta-feira. O peemedebista ironizou a aposta do Palácio do Planalto em sua saída.