Jornal Estado de Minas

Cúpula de empreiteiras é transferida para presídio no Paraná


Brasília
– Presos desde 19 de junho na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, os presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo, foram transferidos na manhã de ontem para o Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense. A operação foi feita por volta das 10h30 em uma van, acompanhada por escolta policial a fim de garantir a segurança. Além de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, foram transferidos cinco executivos ligados à Odebrecht – Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, César Ramos Rocha, João Antônio Bernardi Filho, Márcio Faria da Silva e Rogério de Araújo – e Elton Negrão de Azevedo Júnior, da Andrade Gutierrez. Os oito empreiteiros foram detidos, em caráter temporário, durante a 14ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para o pagamento de propinas.

A mudança dos presos foi determinada pelo juiz federal Ségio Moro, responsável pela condução dos processos da Lava-Jato, a pedido da Polícia Federal, devido à falta de espaço na superintendência da PF. No despacho, Moro alega que “a carceragem da Polícia Federal, apesar de suas relativas boas condições, não comporta, por seu espaço reduzido, a manutenção de número significativo de presos” e que a “ala específica do Complexo Médico-Penal disponibilizada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná é local adequado para a acomodação dos presos no sistema prisional estadual, talvez até com melhores condições do que as da carceragem da Polícia Federal”.

De acordo com o diretor-geral do Complexo, Marcos Muller, todos passaram pela revista e nenhum deles está machucado. Os oito ficarão alojados em três celas na ala especial e continuarão juntos, a princípio. “Vamos manter a mesma divisão em que estavam na superintendência da Polícia Federal para se ambientarem até segunda-feira pelo menos”, afirmou Muller.

Com a mudança para o complexo médico, os presos terão algumas mudanças na rotina. A pior delas é em relação à comida.
Considerada “intragável”, segundo relatos de pessoas que têm contato com os detentos, ela é o principal motivo de reclamação. A maioria dos réus que estão no presídio já emagreceu alguns quilos depois da chegada à nova estada. Os investigados dividirão uma cela para três pessoas. No local, há três camas de concreto, uma pia e uma latrina. O banho é coletivo.

Outra diferença é em relação às visitas, agora feitas às sexta-feira, das 14h às 16h. Na sede da PF, os presos só podem tocar nos visitantes nos encontros que ocorrem na última quarta-feira do mês. Os demais contatos semanais, também às quartas, são no parlatório, onde os presos são separados por um vidro, com duração de aproximadamente 20 minutos.

O complexo abriga outros oito envolvidos na Lava-Jato.
São eles o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque; o lobista e operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano; o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto; além de Adir Assad e Mário Goes, ambos acusados de operar o esquema de desvios na estatal. Também estão detidos no local os ex-deputados André Vargas (ex-PT-PR), Pedro Corrêa (ex-PP-PE) e Luiz Argôlo (ex-SDD-BA).

DENÚNCIA Os empreiteiros foram denunciados formalmente pelo Ministério Público Federal na sexta-feira por corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Os procuradores da Operação Lava-Jato pediram à 13ª Vara Federal de Curitiba que eles, e outros 20 réus, sejam condenados a pagar R$ 7,25 bilhões em ressarcimento pelos danos causados à Petrobras com o esquema de desvio de dinheiro para propinas. Os executivos negam qualquer envolvimento nos crimes. Também na sexta-feira, a Justiça Federal do Paraná decretou nova prisão preventiva de Marcelo Odebrecht e outros quatro executivos. Moro alegou que a empresa dispõe dos meios para “interferir de várias maneiras na coleta da provas, seja pressionando testemunhas, seja buscando interferência política”.

Segundo o Ministério Público Federal, foram 223 atos de corrupção e outros 242 de branqueamento de capitais. Tudo para, segundo a Polícia Federal e a Procuradoria, garantir contratos com a Petrobras. As propinas eram destinadas a políticos, partidos e funcionários da Petrobras.
Para custeá-las, as empreiteiras embutiam uma taxa de 1% a 3% nas propostas à estatal. As obras ainda eram acertadas por um cartel de construtoras..