Brasília - A presença de 13 senadores e 22 deputados na lista de investigados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na Operação Lava Jato e as buscas da Polícia Federal nas casas de quatro desses congressistas, entre eles o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), não foram suficientes para tirar da letargia os conselhos de ética da Câmara e do Senado. Os colegiados, responsáveis por fiscalizar o decoro parlamentar e recomendar penas disciplinares, não fizeram nenhuma reunião nesta legislatura e não têm nenhum processo em seus escaninhos.
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Para especialistas, corporativismo prevalece em conselhos de ética do CongressoMaioria de pedidos de impeachment tem frágil argumentação e acaba descartadaPF deflagra a 16ª fase da Operação Lava-JatoA posição dos colegiados é estratégica em tempos de crise política aguda, pois são os conselhos que decidem pela abertura de processos de investigação e, posteriormente, dão parecer pela perda ou a manutenção dos mandatos de deputados e senadores, julgada em plenário.
Na Câmara, nenhum pedido de investigação foi feito ao Conselho de Ética por ora. Quatorze dos 21 integrantes do colegiado receberam recursos para campanhas eleitorais de empreiteiras envolvidas na Lava Jato.
Uma regra estabelecida em 2011 criou uma barreira burocrática para as investigações: a cláusula da admissibilidade. Antes dela, os pedidos dos partidos para que fossem julgados os deputados por quebra de decoro iam direto para avaliação de mérito dos membros do colegiado e, em seguida, para o plenário. Com a mudança, os deputados criaram um filtro: primeiro, um relator é designado pelos pares e tem o poder de avaliar, individualmente, se a denúncia tem pertinência e pode seguir para os demais.
"O espírito de corpo cresceu entre 2005, no mensalão, e hoje, no caso da Lava Jato. O exame prévio de admissibilidade mata tudo na raiz. Blindaram o conselho", protesta o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
"Isso esvaziou a comissão.
Araújo apresentou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) um projeto para tentar reavivar o conselho, extinguindo a cláusula de admissibilidade. A expectativa é de que a mudança seja votada logo depois do recesso. "Mas isso não será o suficiente se os deputados não tomarem iniciativa. Se eles não provocam (investigações), não posso fazer nada."
Outra opção dos deputados seria apelar para a Corregedoria da Câmara, responsável pela abertura de sindicâncias e inquéritos para apurar faltas de integrantes da Casa. Nesse caso, o caminho é mais longo. Aliado de Cunha, o corregedor, deputado Carlos Manatto (SD-ES), tem o poder de decidir se aceita ou não os pedidos que ali chegam.
Caso decida dar prosseguimento, o processo é encaminhado para a Mesa Diretora da Câmara, só depois, cai no Conselho de Ética.
Senado
No caso do Senado, o conselho é presidido pelo senador José Alberto de Souza (PMDB-MA), aliado do ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP) e ligado a Renan. "Até agora não recebi nada", justifica, quando questionado sobre a inércia diante das denúncias da Lava Jato. "Mas não vale recorte de jornal e revista. (O pedido) tem que ser robusto para ser levado aos senadores."
O colegiado tem 16 senadores, a maioria de partidos citados na Lava Jato. "Os integrantes do conselho são escolhidos para que ele não funcione. Esse era um momento para ele estar funcionando.
O histórico do conselho no Senado é mais modesto. Criado em 1995, o órgão cassou dois senadores: Luiz Estevão, em 1999, por envolvimento no desvio de recursos da obra do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP); e Demóstenes Torres, em 2012, acusado de favorecer o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O saldo do conselho tem ainda três censuras verbais ou escritas contra Antonio Carlos Magalhães, Roberto Saturnino e Ney Suassuna..