Três meses antes de ser preso na sétima fase da Operação Lava-Jato, o empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC Engenharia e apontado como líder do cartel para fraudar licitações da Petrobras, demonstrou sua preocupação com os desdobramentos das investigações e com o risco de ter sua própria prisão decretada. Mesmo assim, em agosto de 2014, ele comandou reunião em que, segundo relatos de outros delatores, ficou acertada a contribuição das construtoras ao PMDB, no valor de 1% dos contratos.
Renato Abreu afirma que participou da reunião convocada por Pessoa, em agosto de 2014. À PF, o empresário disse que o dono da UTC "demonstrou preocupação com os desdobramentos da Operação Lava-Jato" e que "o mesmo estava temeroso em ser preso".
Fazia sentido a paúra do empreiteiro. Sua prisão preventiva, afinal, acabou decretada em novembro de 2014 pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal de Curitiba.
Ainda segundo Renato Abreu, o dono da UTC Engenharia afirmou na reunião que o consórcio Angramon havia realizado "gastos extras" de R$ 3 milhões, sem especificar do que se tratava. O dono da MPE Participações e Administrações, no entanto, afirmou não ter conhecimento de que o consórcio teria oferecido vantagens indevidas ao presidente da Eletronuclear, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, para conseguir vantagens na licitação de Angra 3.
Batizada de Radioatividade, a 16ª fase da Operação Lava-Jato mirou na atuação de Othon Pinheiro frente à presidência da Eletronuclear. O almirante foi preso nesta terça acusado de ter recebido R$ 4,5 milhões para garantir vantagens ao consórcio Angramon no contrato para a construção de Angra 3. De acordo com os investigadores, o volume de recursos recebidos por Othon Pinheiro pode ter ultrapassado os R$ 30 milhões.