Governador Valadares – “Os operários e as máquinas sumiram de repente. Há cerca de 60 dias foram embora. Desde então, não vimos mais nenhum sinal de obra.” O relato de Daniel Ferreira do Amaral, dono de restaurante às margens da BR-381, no município de Naque, mostra a perplexidade com que os moradores vizinhos da rodovia assistem à paralisação das obras. Na semana passada, o consórcio Isolux/ Engevix, responsável pela duplicação entre Jaguaraçu e Governador Valadares, devolveu o trecho de 161,6 quilômetros ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), desistindo das obras. Ontem, venceu o prazo de cinco dias determinado pela Justiça Federal para que o Dnit defina os próximos passos a serem tomados nos trechos abandonados pelas empreiteiras. No entanto, o órgão ainda não se manifestou sobre o que será feito.
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Obras de duplicação da BR-381 podem parar ou ter custo elevado em mais de R$ 200 milhõesEmpreiteira desiste de obras para duplicar a BR-381Duplicação do trecho mais perigoso da BR-381 é adiadaMoradores cobram do Dnit definição sobre obras na BR-381Obras BR-381Isolux pede mais prazo para decidir se continua na obra de duplicação da BR-381MP e Justiça fecham cerco às falhas nas licitações da BR-381Dnit pede prazo para retomar obras de duplicação da BR-381“A chegada das máquinas no ano passado foi uma ótima surpresa. Finalmente passamos a ver que a duplicação aconteceria, depois de décadas de promessas. Mas o cenário de obras durou pouco tempo. Já estamos vendo que não vai acontecer de acordo com o que foi planejado”, lamenta Daniel Ferreira, que trabalha próximo à BR há mais de 30 anos. Segundo o comerciante, muitas pessoas da região associaram a paralisação das obras aos desdobramentos da Operação Lava-jato, em que a Engevix, uma das empreiteiras responsáveis pelas obras da 381, teve diretores presos e são investigados por esquemas de corrupção na Petrobras. No entanto, a empreiteira envolvida na Lava-Jato participa de forma minoritária no consórcio que duplica alguns trechos da BR mineira e, segundo o Dnit, não há relação entre as investigações e as paralisações.
A Isolux e a Engevix formaram um consórcio para fazer os primeiros lotes da obra e receberam a ordem de serviço autorizando o início dos trabalhos em 12 de maio de 2014, quando começaram a montar pátios para tratores e juntaram material de construção.
Entulhos
No município de Periquito, moradores de bairros vizinhos à rodovia já deixaram suas casas. Alguns imóveis começaram a ser demolidos, mas, com a paralisação, as demolições não foram concluídas, deixando restos de casas e entulhos próximos à via. Vários moradores viram seus vizinhos desmontarem suas casas, mas ainda não sabem quando terão suas casas desapropriados. “Não sei como ficará nosso bairro. Algumas casas foram desapropriadas, outras ainda não. A minha mesmo, eu não sei se vai sair.
Para quem trafega pela rodovia diariamente, os vários cenários da duplicação mostram um contraste entre os lotes que avançam e os que estão parados. O caminhoneiro Marcelo de Souza, que seguia ontem para o Ceará, alertou para o perigo de obras inacabadas ao longo da rodovia no trecho próximo a Belo Oriente. “Para quem não conhece pode ser um perigo”, disse o caminhoneiro, que seguia com seu filho pela rodovia mineira..