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Estado de Minas

Planalto e PT deixam José Dirceu de lado

Nem o partido nem o governo saem em defesa de Dirceu, que chegou nessa terça-feira (4) à carceragem da PF sob gritos de "ladrão". Aliados avaliam que momento é de impor uma redoma à presidente Dilma


postado em 05/08/2015 06:00 / atualizado em 05/08/2015 07:29

Ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu foi levado nessa terça-feira (4) para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele é apontado como um dos mentores do esquema de corrupção na Petrobras (foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press)
Ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu foi levado nessa terça-feira (4) para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele é apontado como um dos mentores do esquema de corrupção na Petrobras (foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press)

Brasília e Curitiba  – O Palácio do Planalto e o PT lavaram as mãos após a prisão do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu para tentar evitar a contaminação das próprias vestes. Nem o partido nem o governo defenderão o ex-homem forte petista, preso na 17ª Fase da Operação Lava-Jato. “Não podemos ficar choramingando pelos cantos, precisamos governar”, disse uma fonte graduada palaciana. Já a Executiva do PT reuniu-se por seis horas em Brasília para divulgar uma nota na qual nem sequer cita o ex-ministro, que foi transferido nessa terça-feira (4) para Curitiba, onde estão os demais presos da Lava-Jato. Na capital paranaense, foi recebido aos gritos de “ladrão” e “vagabundo”. Quando os carros da Polícia Federal cruzaram a entrada da superintendência da corporação, um grupo de 50 manifestantes, com faixas de apoio ao juiz federal Sérgio Moro e às ações policiais, soltou fogos de artifício.

“O PT é um partido diverso, com várias lideranças. Quando fomos procurados no momento da prisão dele, fizemos uma nota para nos defender e deixar claro que não recebemos nenhum tipo de verba ilegal. O Dirceu precisa se defender das acusações que estão sendo feitas contra ele. O ônus da prova é de quem acusa”, esquivou-se o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Lavar as mãos não significa que a prisão de Dirceu não tenha abalado governistas e petistas. Pior. Foi uma bomba que explodiu no momento em que ambos ensaiavam uma reação. Dirceu preso pela segunda vez em menos de dois anos é simbólico. E uma nova ameaça está no ar: as delações premiadas do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.

Duque é o primeiro homem organicamente ligado ao PT a fechar acordo de coloboração. E, mesmo com o ex-tesoureiro  João Vaccari Neto preso, Dirceu tem uma dimensão de troféu político muito maior. Tanto que chamou a atenção entre os petistas a mudança no patamar das entrevistas dos procuradores de Curitiba. “Dirceu passou de alguém que teria recebido propina para ‘idealizador’ do esquema”, apontou um integrante da executiva petista.

No encontro dessa terça-feira, em Brasília, o clima era de desânimo e depressão total. “Foi péssimo acontecer isso na semana em que vai ao ar a propaganda do partido (marcada para amanhã) e a 12 dias das manifestações de rua contra o governo da presidente Dilma”, disse outro integrante da máquina partidária.

Falcão, contudo, evitou confirmar que o partido estava abandonando Dirceu, embora haja um discurso ensaiado para justificar isso: diferentemente de 2012, quando foi condenado no mensalão e recebeu amplo apoio do partido (leia memória), agora o ex-chefe da Casa Civil é acusado de ter embolsado dinheiro.

No Planalto, a ordem também é impor uma redoma de proteção à presidente e ao governo. Dilma comemorou nessa terça-feira os dois anos do Programa Mais Médicos – um das poucas coisas que ela conseguiu tirar do papel após as manifestações de junho de 2013. Também prepara-se para lançar, ainda este mês, a terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida. Segundo interlocutores da presidente, o lema baixado por Dilma é “precisamos governar”, emoldurado pela frase dita pelo ministro da Defesa, Jaques Wagner, sobre a prisão de Dirceu: “As investigações seguem e o país também segue.”

Porta dos fundos

Dirceu foi para Curitiba numa aeronave própria da PF. “Temíamos que algo pudesse ocorrer num voo normal. Na chegada, recebemos a informação de que havia um grupo bastante animado no prédio. Ficamos com receio de que ele  sofresse algum tipo de agressão”, disse o delegado Igor de Paula. Enquanto todos esperavam Dirceu descer de uma van da PF, ele entrou pelos fundos do prédio. O ex-ministro divide a cela com dois presos acusados de contrabando. Ele está numa ala em que há outros investigados da Lava-Jato, mas em celas diferentes. “A intenção é evitar uma articulação de respostas”, justificou Igor.

Memória

Aplausos em 2012


A condenação do ex-ministro José Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, em 2012, gerou reações de apoio ao político entre os correligionários do PT. Numa reunião do diretório nacional do partido, ele foi recebido com aplausos e gritos de guerra. Na época, o então presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), foi um dos que saiu na defesa do colega. “O que tenho dito é que nossa expectativa é que o STF faça um julgamento equilibrado à luz das provas que foram produzidas e que tenha caráter eminentemente técnico. No caso do ex-ministro José Dirceu, não há absolutamente nenhuma prova, nenhum elemento que permita a sua condenação da forma como está sendo feito”, disse. Em 14 de novembro de 2014 – dois dias depois da definição das penas pelos ministros do STF –, a executiva nacional do PT se reuniu e lançou um documento em que criticou a condução do processo do mensalão pelo Judiciário.

 


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