Porto Alegre, 05 - O secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, Giovane Feltes, sinalizou nesta quarta-feira que o governo deverá cortar verbas destinadas a serviços essenciais, como segurança pública e educação, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) defina pela obrigatoriedade do pagamento integral dos vencimentos dos servidores estaduais. Ontem o governador José Ivo Sartori se reuniu com ministros do STF em Brasília para discutir a crise no Estado e a legitimidade do parcelamento dos salários de julho de 48% do funcionalismo, anunciado na última sexta-feira.
O RS aguarda o julgamento no STF de um recurso que tenta reverter uma primeira decisão da Corte em favor de liminares obtidas em maio por entidades representativas dos servidores determinando a necessidade de o Executivo gaúcho pagar os salários em dia na sua totalidade. Na última segunda-feira, 3, quando o julgamento teve início, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, negou o agravo regimental e manteve a decisão anterior. O voto dele foi acompanhado pelos ministros Edson Fachin e Marco Aurélio. Na sequência, a apreciação foi suspensa após um pedido de vista do ministro Teori Zavascki.
Em entrevista coletiva concedida hoje na sede da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), Feltes disse que o Estado trabalha com a possibilidade de uma decisão desfavorável em Brasília, mas confia numa reversão do quadro. "A razoabilidade e o bom senso seguramente são percebidos por nós todos, e além de os exercitarmos confiamos que todos exercitem", disse. O RS alega que não há condições materiais de cumprir as liminares.
De acordo com o secretário, se o STF decidir em favor dos servidores o Executivo gaúcho priorizará "por absoluto" o salário do funcionalismo, pagando "o que for possível". Isso, segundo ele, colocaria em risco o cumprimento de outros compromissos do Estado.
Feltes disse que o Estado buscaria orientação dos técnicos da Fazenda e da Procuradoria-geral do Estado (PGE) para saber quais repasses poderiam ser afetados, já que alguns são previstos pela Constituição. Desde o início do ano, para fechar a folha do funcionalismo o governo gaúcho já vem descumprindo contratos com fornecedores, retardando a liberação de verbas a hospitais e adiando o pagamento da parcela da dívida com a União.
Na entrevista, o secretário também disse que o Estado respeita as manifestações dos servidores estaduais, que estão programando uma greve geral para o dia 18 de julho. "O movimento paredista serve para chamar atenção para inúmeras questões, mas não coloca dinheiro no caixa do governo", avaliou. Segundo o secretário, é chegada a hora de sentar à mesa e encontrar soluções para a crise, já que não existem "alternativas mágicas". Ele também afirmou que não é bom, neste momento, gerar um "clima de terror" entre a sociedade.
Feltes confirmou que o governo está estudando um conjunto de medidas para combater a crise financeira, e que o pacote pode incluir a elevação de alíquotas de ICMS. "A situação do jeito que está talvez a gente não possa tirar do horizonte a possibilidade", falou.
A ideia de aumentar a carga tributária também encontra resistência entre o empresariado gaúcho. Hoje, após conversar com a imprensa, Feltes participou de uma reunião-almoço na sede da Federasul. No discurso de boas-vindas ao secretário, o presidente da entidade, Ricardo Russowsky, disse que os empresários apoiam todas as medidas que possam "colocar o RS novamente no caminho do crescimento", mas que se opõem a qualquer tentativa de elevação de impostos.
Um projeto dado como certo no Palácio Piratini é o aumento de 85% para 95% no limite de saque dos depósitos judiciais. A extinção de fundações públicas, privatizações e uma reforma no sistema previdenciário estadual também são estudados.
Sartori
Na última segunda-feira, ao rejeitar o agravo apresentado pelo RS, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, alertou que o governo gaúcho pode até mesmo sofrer intervenção pelo descumprimento da sua decisão liminar. Na manhã de hoje, após o lançamento da edição deste ano da Expointer, no Palácio Piratini, Sartori descartou a hipótese. "Não existe essa possibilidade. Está tudo calmo. Não se preocupem demais. Não interpretem em demasia. Peguem leve que as coisas estão caminhando bem", afirmou.
Na viagem a Brasília, ontem, munido de uma série de documentos, ele tratou de convencer os ministros Teori Zavascki, Celso de Mello e Luís Roberto Barroso a votarem pela suspensão da liminar que proíbe o parcelamento dos salários dos servidores do Executivo gaúcho. O julgamento deve ser retomado esta semana..