Do alto do bairro São Pedro, a reportagem do Estado de Minas conseguiu medir com um decibelímetro o som do protesto de nessa quinta-feira à noite nos vizinhos Santo Antônio, Carmo e Sion. Em menos de 10 minutos, panelas, buzinas e apitos fizeram uma noite que registrava média de 62 decibéis – próximo do volume de uma conversa entre pessoas – saltar para uma média de 75 (altura do som produzido por uma serra circular) até o pico de 86 decibéis (mais alto que uma esmerilhadeira). Os ruídos chegaram a 80 decibéis quando o ex-presidente Lula entrou em cena, mas atingiram o pico quando Dilma apareceu.
O PT até tentou pedir paciência à população e chamar a atenção para os avanços e conquistas do governo Dilma Rousseff a partir de um programa partidário com cara de superprodução. Mas, em vez dos petistas, muitos belo-horizontinos preferiram ouvir o som das panelas e das buzinas. Moradores ignoraram a ironia da legenda em relação à manifestação que usa caçarolas – o programa diz que, com as panelas, o PT continuará fazendo o que mais faz: “enchê-las de comida e esperança” – e, pela quarta vez este ano, orquestraram um sonoro panelaço contra o partido. O barulho vindo de carros e o piscar das luzes reforçaram os protestos, que duraram 10 minutos, tempo do programa.
O Estado de Minas esteve presente em 20 bairros espalhados por toda a cidade e registrou as mais diferentes manifestações. Houve protesto no Anchieta, Centro, Lourdes, São Bento, Santa Lúcia, Sion, Mangabeiras, Funcionários, Santo Antônio e Serra, na Região Centro-Sul. Na Avenida Bandeirantes, que corta bairros da Zona Sul, junto do barulho nas janelas, motoristas não pouparam as buzinas.
Os gritos de “Fora, PT” e “Fora, Dilma” reforçaram o coro daqueles que pedem o impeachment da presidente. Nessa quinta-feira (6), pesquisa Datafolha mostrou que o percentual da população brasileira que defende a abertura do processo de afastamento de Dilma pelo Congresso Nacional já chega a 66%. Os manifestantes também apagavam e acendiam as luzes de casa em sinal da insatisfação com a situação do país.
Moradores do Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste, também foram para as janelas mostrar a indignação contra o governo Dilma. Enquanto no Alto Barroca e no Grajaú, na Região Oeste, houve panelas e buzinas, do outro lado, no aglomerado Morro das Pedras, moradores ironizavam os manifestantes dos bairros de classe média com gritos de “Zero”.
Em menor proporção, também houve protesto nos bairros Prado, na Região Oeste, onde os moradores soltaram fogos de artifício, Caiçara, na Região Noroeste, bairros da Graça e Concórdia, na Região Nordeste, e Manacás, na Região da Pampulha. Na Avenida Saramenha, no Bairro Aarão Reis, na Região Norte de BH, não houve manifestação. No interior de Minas, a exibição do programa do PT não gerou tantas reações como na capital.
Foi o quarto protesto este ano contra o governo de Dilma Rousseff e o PT. O primeiro ocorreu em 8 de março, durante pronunciamento da presidente pelo Dia Internacional da Mulher. Em 15 de março, depois de manifestações de rua, novo panelaço aconteceu enquanto os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rosseto, da Secretaria-Geral da Presidência, concediam entrevista coletiva à imprensa, transmitida ao vivo pelas emissoras de TV. Em 5 de maio, houve novo panelaço durante programa partidário do PT.