Que agosto tem fama de ser o mês do desgosto é fato, mas certamente a presidente Dilma Rousseff e o PT não esperavam experimentar o que há de mais amargo já nos seus primeiros sete dias. Na área econômica, no Congresso, na Justiça, nas pesquisas de opinião, nas ruas e até na relação com aliados, o governo e o seu partido sofreram duras pancadas. Especialmente no Legislativo, a semana, com a retomada dos trabalhos depois do recesso, foi realmente explosiva, como previu o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – um dos responsáveis por jogar ainda mais combustível na crise. Para aumentar o desgosto dos petistas, agosto está só começando.
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Inferno Não bastasse isso, na economia, ainda na quarta-feira, a estimativa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou para um crescimento do desemprego em julho, com taxa de 7%. O salário médio de admissão caiu também 2% em junho, pior resultado nos últimos 11 anos. Na combalida relação com aliados, outro revés: o PDT e o PTB admitiram oficialmente que deixaram a base de sustentação do governo. Não serão oposição, e sim independentes.
Mas nada disso chegou perto dos desgostos da quinta-feira, ápice do inferno astral de Dilma e seus apoiadores. Já pela manhã, pesquisa do Instituto Datafolha mostrava que a petista entrava para a história com um recorde que nenhum político gostaria de alcançar: o de maior reprovação entre os presidentes eleitos após a redemocratização.
A partir da constatação do desprestígio da presidente, foi só dor de cabeça. Mais enfraquecidos, PT e governo ainda assistiram imobilizados à instalação de mais três comissões parlamentares de inquérito (CPIs) sob a batuta de Eduardo Cunha – que ainda destila veneno contra o governo depois da abertura de inquérito pela Procuradoria-Geral da República para apurar o recebimento de propina por ele de R$ 3,5 milhões da Petrobras. Oposição e aliados fecharam acordo e deixaram o PT fora do comando das três CPIs. E uma delas tem potencial explosivo como a da petrolífera, a do BNDES, que terá seus empréstimos vasculhados nos últimos sete anos.
Panelaço Para fechar o dia, não faltou nem mesmo o lamento das ruas. Com programa partidário do PT exibido em rede nacional, foi reeditado o panelaço. A peça tinha 10 minutos e, antes mesmo de ir ao ar, o barulho de latas, buzinas e cornetas tomou conta das ruas. Uma resposta ao partido, que ironizou no programa o uso das panelas para protestos.
Na sexta-feira, sem o trabalho no Congresso, a notícia ruim ficou por conta da economia. De acordo com o IBGE, a inflação oficial acumula alta de 9,56% em 12 meses, a maior desde 2003. O índice está bem acima do teto da meta de inflação do Banco Central, que é de 6,5%. Em julho, também os alimentos tiveram os preços reajustados em 0,65%. Na política, “boatos” tomaram conta do país. O principal deles, de que o vice-presidente Michel Temer iria deixar a articulação política do governo. Temer desmentiu, mas foi um estresse para o Planalto e contribuiu para deixar o clima em Brasília ainda mais tenso.
O que deixa os governistas de cabelo em pé é que essa foi apenas a primeira semana de agosto. Já nos próximos dias, o governo Dilma vai enfrentar mais desafios e problemas. Para se ter ideia, no Congresso, poderá ser votada mais uma chamada pauta-bomba para as contas do governo: o projeto de lei que concede uma correção maior dos recursos do FGTS.
SEGUNDA-FEIRAS - 3/8
Prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu
É desencadeada a 17ª etapa da Operação Lava-Jato, que tem o petista como principal alvo. Ele é preso preventivamente acusado de receber R$ 20 milhões de empreiteiras suspeitas.
TERÇA-FEIRA
Aumento salarial
Deputados rejeitam pedido do governo de adiar votação de projeto de lei que eleva salários. A PEC em pauta vincula os salários do advogado-geral da União, dos procuradores estaduais e municipais, além dos delegados das polícias Civil e Federal, a 90,25% do que ganham os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). No dia seguinte, o projeto é aprovado.
QUARTA-FEIRA
Desemprego maior
Estimativa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) aponta para um crescimento do desemprego em julho, com taxa de 7%. O salário médio de admissão caiu também 2% em junho, pior resultado nos últimos 11 anos.
Adeus, aliados
O PDT e o PTB formalizam a saída da base de apoio ao governo de Dilma Rousseff na Câmara. Alegam, no entanto, que isso não significa uma migração para a oposição, mas a decisão de manter uma postura "independente".
QUINTA-FEIRA
Reprovação recorde
Instituto Datafolha divulga pesquisa em que a rejeição à presidente Dilma Rousseff subiu e atingiu 71% dos entrevistados, superior à reprovação do ex-presidente Fernando Collor de Mello em setembro de 1992, antes do impeachment.
CPI sem o PT
O Congresso instala mais três comissões parlamentares de inquérito (CPIs), entre elas, a do BNDES. Oposição e partidos da base governista se unem para deixar o PT de fora do controle de todas as investigações.
Panelaço de novo
Programa partidário do PT, com participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, causa onda de protesto. Antes mesmo da exibição da peça publicitária, população já batia panelas.
SEXTA-FEIRA
Galope da inflação
De acordo com o IBGE, a inflação oficial acumula alta de 9,56% em 12 meses, a maior desde 2003.
Articulação problemática
Boato de que o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) quer deixar a articulação política do governo da presidente Dilma faz elevar a temperatura em Brasília. Informação foi desmentida pelo peemedebista em rede social: “São Infundados os boatos de que deixei a articulação política. Continuo.” .