A força-tarefa da Operação Lava-Jato rastreia dados de uma offshore controlada pelo lobista João Augusto Rezende Henriques, que teria sido usada para abrir contas que movimentaram US$ 10,8 milhões em propinas do PMDB. O valor seria por contrato de 2008 assinado por uma multinacional, com a Diretoria Internacional da Petrobras, para fornecimento do navio-sonda Titanium Explorer, usado para exploração de petróleo em alto mar.
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Moro diz que lava-jato não pode ser um %u2018soluço%u2019Adams e Cunha dão versões conflitantes sobre pedido para anular ação da Lava-JatoCitados na Lava-Jato devolveram R$ 200 milhões em impostosOs seis são acusados por corrupção e lavagem de dinheiro pela cobrança e promessa de US$ 31 milhões em propinas, entre 2008 e 2009, na contratação do navio-sonda Titanium Explorer. Desse montante, o valor total da propina foi de US$ 20,8 milhões.
Hamylton Padilha, o lobista que atuou em nome da norte-americana Vantage Drilling e do Grupo Taiwan Maritime Transportation Co (TMT) nos negócios com Zelada, confessou ter pago propinas no esquema. Parte para os agentes públicos Zelada e Musa, parte para outros dois lobistas que falavam em nome do PMDB e de seus indicados: João Augusto e Raul Schmidt.
"(O) contrato foi celebrado, também em 2008, no Rio de Janeiro com o valor de USD 15,5 milhões, entre a sociedade Valencia Drilling Corporation, sediada na Ilhas Marschall, e que é subsidiária do Grupo Taiwan Maritime Transportation Co., com sede em Taiwan e presidida pelo acusado Nobu Su., e uma offshore, ainda não identificada, que era controlada por João Augusto Rezende Henriques", informa a força-tarefa da Lava-Jato.
Nobu Su era o representante do Grupo TMT, proprietário do navio-sonda que foi alugado pela Vantage para posterior afretamento à Petrobras. Sua mãe, é uma das principais acionistas da Vantage Drilling.
Um outro contrato de comissionamento por agenciamento, que para Lava Jato era forma de ocultar propina de Zelada e Musa, foi assinado pela Valencia, usada pelo Grupo TMT, com uma offshore controlada por Padilha, a Oresta Associated S/A.
"Caberia a João Augusto Rezende Henriques realizar o pagamento da vantagem indevida em favor do PMDB, enquanto Hamylton Padilha se encarregaria de pagar a parte da propina destinada a Eduardo Musa e Raul Schmidt Felippe Junior. Este, por sua vez, transferiria a parte da propina devida a Jorge Luiz Zelada."
Para a Lava-Jato, o contrato que envolveu propina para Zelada e o PMDB foi uma continuidade do esquema montado em dois outros contratos do tipo feitos pelo antecessor da Diretoria Internacional, Nestor Cerveró (2005-2008).
Nesses primeiros contratos, que envolveram pagamento de US$ 40 milhões em propina pela Samsung Heavey Industries, por intermédio do lobista Julio Gerin Camargo - delator da Lava-Jato - quem desempenhou o papel de João Augusto foi o primeiro operador do PMDB alvo da Lava Jato, Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano. Teria sido ele o responsável pela entrega de pelo menos US$ 5 milhões para o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar nega ter recebido recursos ilícitos.
Mesmo caminho
Ex-funcionário da Petrobras, João Augusto é ligado ao PMDB de Minas Gerais, assim como Zelada.
Hamylton Padilha, que passou a atuar pela empresa Vantage no final de 2008, diz que foi Raul Schimidt Felippe Junior que o procurou e "explicou que para o fechamento do negócio também seria necessário o pagamento de vantagem indevida a empregados públicos da área Internacional".
Padilha aceitou devolver R$ 70 milhões, que seria oriundos de propina. "Na conversa, Raul Schmidt Felippe Junior informou a Hamylton Padilha que nesta negociação o interlocutor direto sobre o tema de propina seria João Augusto Rezende Henriques, ex-funcionário da Petrobras e conhecido como um lobista ligado ao PMDB, partido que dava sustentação política para Zelada permanecer no cargo", sustenta a força-tarefa do MPF.
Os investigadores acreditam que o caminho do dinheiro que chegou aos cofres do PMDB via João Augusto é o mesmo que serviu para pagar Zelada e Musa, com apenas alterações no seu trajeto final. Para Zelada, a Lava-Jato já identificou a conta em nome da offshore Tudor Advisory Inc, aberta no Lombard Odier Darier Hentch & Cie, em Genebra, Suíça. Por ela, Zelada recebia propina paga por Padilha. A offshore tem sede no Panamá.
Esses pagamentos saíram da conta controlada pelo delator em nome da offshore Oresta Associated S/A, no Banco UBS, em Zurique. Por meio dela e de outras contas que caíram no radar da força-tarefa, a Lava-Jato tenta mais elementos sobre a propina de US$ 10,8 milhões destinada ao PMDB.
O delator disse que não participou da assinatura do contrato de Brokerage e Comission Agreement entre Nobu Su, do Grupo TMT e João Augusto Henriques. Mas disse que posteriormente o chinês confirmou ter assinado o termo e pago os valores.
Ao aceitar a denúncia criminal do MPF, o juiz federal Sérgio Moro apontou que apesar de envolver propina ao PMDB, o caso não há identificação de políticos com direito a foro especial.
"Há ainda, segundo afirma o MPF, possível direcionamento de parte da propina ao PMDB.
A assessoria de imprensa do PMDB negou todas as acusações e disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos..