A crise econômica e política pela qual atravessa o Brasil virou combustível para inflar as manifestações contrárias ao governo da presidente Dilma Rousseff e ao PT marcadas para o próximo domingo. Em 15 de março, quando cerca de 1 milhão de brasileiros saíram às ruas pela primeira vez, falava-se em previsões de um cenário negativo. Pois, cinco meses depois, as previsões não só se converteram em realidade – com a queda de indicadores econômicos, o avanço da Operação Lava-Jato e a contestação de contas da presidente nos tribunais – como alimentam o discurso de quem depõe contra o governo.
A dimensão dos protestos de domingo ainda é desconhecida, mas o agravamento da crise pôs Dilma numa situação mais delicada em relação a cinco meses atrás. Na economia, o dinheiro ficou mais curto e o desemprego avançou. A inflação acumulada dos últimos 12 meses saltou de 8,12%, em março, para 9,55%, em julho, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nesse mesmo período, o Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros (Selic) de 12,75% para 14,25%. O número de desempregados cresceu no país e, segundo o IBGE, a taxa de desocupação passou de 6,2%, em março, para 6,9%, em julho. “As falhas do governo petista só começaram a aparecer. Antes, falávamos que a inflação, o desemprego e os problemas nas contas do governo aumentariam.
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A presidente Dilma também está no alvo dos tribunais. No Tribunal de Contas da União (TCU), ela tenta explicar as chamadas “pedaladas fiscais” – prática conhecida como atrasos no repasse de verbas do Tesouro Nacional para bancos e autarquias como forma de melhorar artificialmente as contas de governo. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma ação da Coligação Muda Brasil, encabeçada pelo PSDB, pede a impugnação do mandato da petista, acusando-a de abuso de poder político durante a campanha presidencial.
Para deixar o cenário ainda mais turbulento, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o governo e, desde então, tem se revelado um perigo constante. Em poucos dias, ele instalou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investigar empréstimos suspeitos a empreiteiras envolvidas na Lava-Jato.
DESÕES Em Minas Gerais, há protestos marcados em 30 municípios, de acordo com o movimento Vem Pra Rua. Em Belo Horizonte, a convocação dos grupos organizadores é para uma concentração às 10h, na Praça da Liberdade. A maior parte pede o fim da corrupção e o afastamento da presidente. Em 15 de março, a Polícia Militar estimou 24 mil manifestantes nos protestos em Belo Horizonte. Desta vez, não há unanimidade nas previsões. Na página do MBL no Facebook, há 2,6 mil confirmações no evento. “É impossível quantificar o número de pessoas. Provavelmente, será maior que o do dia 15”, acredita Ivan Gunther.
O maior número de adesões é o da manifestação do Bloco da Papuda, em referência ao presídio de Brasília, que conta com 36 mil confirmados para o protesto na Praça da Liberdade.
Democracia sólida’
A quatro dias da realização de mais um protesto contrário ao PT e ao governo Dilma Rousseff, o governador Fernando Pimentel reconheceu a legitimidade das manifestações, mas reforçou que a democracia brasileira tem resistido bem e que o pessimismo em relação ao governo não é generalizado em Minas. Ao classificar como “teste de estresse”, na comparação com o processo que na engenharia testa a capacidade de materiais, Pimentel afirmou que a democracia brasileira é sólida e está passando bem por isso. “É claro que a oposição tem hoje uma posição mais radicalizada, mas eu não acredito que isso encontre eco junto à população.” O governador destacou que, em viagens pelo interior de Minas, é possível perceber que as pessoas não estão com esse sentimento de negativismo percebido nas grandes cidades. “No interior, as pessoas estão trabalhando.