Jornal Estado de Minas

Encontro em meio à crise

Na véspera das manifestações pelo país, Dilma e Lula se reuniram no Palácio da Alvorada

Brasília – Em busca de solução para a grave crise política que tem balançado o governo, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram na manhã de ontem, em café da manhã no Palácio da Alvorada. O encontro, que se estendeu por cinco horas, não constou na agenda oficial de nenhum dos dois. A assessoria de imprensa do Planalto, assim como a do ex-presidente, não repassou informações sobre a reunião.

Dilma e Lula haviam se distanciado, e ele chegou a fazer críticas ao governo em alguns momentos. Em encontro com religiosos no Instituto Lula, em junho, o ex-presidente afirmou, reservadamente, que Dilma seria a culpada pelo momento difícil pelo qual passa o partido. “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos.”

Entre as críticas pessoais a Dilma, Lula disse que a presidente tem dificuldade de ouvir conselhos.

Ele teria aconselhado ela a viajar mais, e não temer as possíveis vaias. Lula ainda se queixou, ao grupo de religiosos, sobre a quantidade de más notícias dadas pelo governo à população, principalmente, no início do segundo mandato de Dilma.

Nos últimos dias, no entanto, diante da gravidade do quadro político no país, os dois ensaiam uma reaproximação. Durante a semana, Dilma participou de eventos em Brasília e em cidades nordestinas com plateias formadas majoritariamente por movimentos sociais favoráveis a ela. O giro pelo país é pouco comum em sua agenda oficial, mas é estimulado por Lula, que defende que Dilma “saia do gabinete para não se tornar mais um elemento da crise”. Já o ex-presidente cumpriu uma série de agendas na capital federal. Na noite de sexta-feira, o ex-presidente participou, em Brasília, de um seminário sobre educação. Em entrevista, ao deixar o evento, disse que protestos são uma manifestação da sociedade, da democracia.

“Eu sou o único cara do mundo que não pode reclamar de protesto.
Eu fiz protesto a vida inteira. E protestar, fazer oposição, tudo faz parte do jogo político, cansei de fazer (protesto)”, disse, ao ser indagado sobre as manifestações previstas para hoje. “Democracia não é um pacto de silêncio, é uma sociedade em movimento em busca de novas conquistas”, afirmou.

RENAN A petista também iniciou uma reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que lançou, na semana passada, uma agenda positiva para ser posta em votação na Casa. Na terça-feira, Dilma declarou que o Palácio do Planalto olha com “grande interesse” o conjunto de propostas apresentado pelo peemedebista para retomar o crescimento econômico.

Na avaliação de Dilma, a postura de Renan demonstra uma disposição para o Brasil sair das suas dificuldades o mais rapidamente possível. “Essa (a postura de Renan), sim, é a agenda positiva para o país. Mostra, por parte do Senado, uma disposição de contribuir para o Brasil sair das suas dificuldades”, disse Dilma.

Ex-presidente ganhou R$ 10 mi de empreiteiras

Desde 2011, quando Lula deixou a Presidência da República, até 2014, a empresa que gerencia as palestras do ex-presidente recebeu R$ 27 milhões, segundo a revista Veja. Desse total, cerca de R$ 10 milhões foram pagos por empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato. É o que aponta, segundo a reportagem, um relatório elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda.
De acordo com o documento, a Lils (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva) recebeu R$ 9.851,582,93 de sete empresas, todas com contratos com a Petrobras.

Contrato para saldar dívidas de campanha

A revista Veja também revelou que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, ao negociar acordo de delação premiada, afirmou que a estatal beneficiou a construtora Schahin em um contrato de compra e operação de um navio-sonda em 2007, com a finalidade de saldar dívidas da campanha eleitoral do então presidente Lula. Ainda de acordo com a revista, a escolha da construtora ocorreu também por influência de José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Procurada, a defesa de Cerveró disse que não iria se manifestar. Os outros citados não foram localizados..