O esquema de propinas desmontado pela Operação Lava-Jato revelou um perfil generoso do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso desde o dia 15 de abril sob acusação formal de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o delator e lobista de empreiteira na Petrobras Milton Pascowitch, o ex-tesoureiro do partido do governo "pediu ajuda para uma senhora humilde ligada ao PT".
Por sugestão de Vaccari, a mulher recebeu R$ 120 mil, valor que foi descontado do total de uma propina reservada ao próprio petista na empresa Consist Software - sob investigação da Pixuleco II, 18º capítulo da Lava Jato que descobriu uma trama com empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento.
Pascowitch contou que a transferência exigiu alguns trâmites de ordem burocrática, como a criação de uma pessoa jurídica pela "mulher humilde", o que possibilitou a emissão de nota fiscal da Jamp Engenheiros, de sua titularidade.
O delator disse, ainda, que Vaccari, chegou a sugerir o pagamento a "alguma central sindical ligada ao PT". Pascowitch narra que explicou ao ex-tesoureiro que não tinha como fazer essa operação com um sindicato porque tinha que emitir nota contra alguma empresa. Foi, então, que surgiu a "mulher ligada ao PT".
"Ela foi ao meu escritório e conversou com meu irmão (José Adolfo). Ela disse que iria constituir uma empresa e dois meses depois retornou ao escritório apresentando os dados da Gomes e Gomes Promoção de Eventos e Consultoria."
Foram realizados quatro pagamentos no valor de R$ 30 mil cada. "Não houve qualquer formalização de contrato, mas somente a emissão de nota fiscal contra a Jamp. Não houve qualquer prestação de serviços à Gomes e Gomes".
Pascowitch disse que "não se recorda" do nome da mulher e que o valor de R$ 120 mil "foi definido por João Vaccari". Segundo ele, "o valor pago foi abatido do valor que estava à disposição de João Vaccari referente ao contrato da Consist".
O criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende Vaccari, tem reiterado que o ex-tesoureiro do PT jamais arrecadou propinas para seu partido. Segundo D’Urso, "todas as doações recebidas foram contabilizadas no PT e declaradas às autoridades competentes".
O criminalista Theo Dias, que defende Pascowitch, disse que não pode se manifestar porque acata a cláusula de sigilo da colaboração premiada de seu cliente.