Com o país afundado em uma das piores crises econômicas e políticas de sua história, a presidente Dilma Rousseff (PT) ganhou nos últimos dias uma trégua com nome e sobrenome: Agenda Brasil. O pacote para tirar o país do sufoco não chega a trazer de volta a bonança, mas dá sobrevida à petista e credencia o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a candidato a salvador da pátria, ou melhor, do Palácio do Planalto, principalmente agora, que o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) anunciou que deverá deixar a articulação política do governo no Congresso.
Desde que chegou ao Congresso Nacional, em 1982, quando eleito deputado federal por Alagoas, Renan, mentor das propostas, vem depurando como poucos a habilidade de se manter no poder. Apesar de processos na Justiça e ameaça de cassação do mandato – que o obrigou a renunciar à presidência do Senado em 2007 –, o filho ilustre de Murici, a 51 quilômetros de Maceió, sempre esteve no primeiro escalão da política. Seja ao lado de Fernando Collor de Mello (então PRN), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Dilma Rousseff (PT).
A partir de segunda-feira, a Agenda Brasil será tratada como prioridade no Senado. O pacote de medidas apresentado por Renan e abraçado pelo governo como tábua de salvação reúne 27 propostas sobre equilíbrio fiscal, negócios e melhoria da proteção social, com o objetivo de retomar o crescimento da economia. “Essa pauta sugerida pelo senador Renan Calheiros é a pauta do Brasil, indispensável para enfrentarmos a nova realidade econômica e superarmos a atual crise”, elogiou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
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Dilma está reunida com ministros da articulação políticaTemer cogitou mudanças na articulação políticaTemer nega saída da articulação política Renan diz que pediu à Dilma apoio incondicional à Agenda Brasil e que não devolverá OrçamentoDilma reúne ministros e secretários para discutir Orçamento de 2016Não é a primeira vez que ele assume a articulação política de planos econômicos que prometem salvar a economia do país. Assessor da campanha presidencial do também alagoano Fernando Collor de Mello (PRN), em 1989, com a eleição do conterrâneo, Renan se tornou líder do governo na Câmara dos Deputados e um dos defensores mais aguerridos do Plano Collor. Uma das medidas do pacote, lançado em 1990 para controlar a inflação, foi o confisco das poupanças. “O plano econômico é inegociável”, afirmou na época, pressionando a aprovação das medidas pelo Congresso Nacional.
Hoje aliados na cúpula política de Alagoas – estado governado por Renan Filho (PMDB), herdeiro biológico e político do presidente do Senado –, nem sempre a relação entre Renan e Collor, colegas no Congresso, foi amistosa. Ainda em 1990, eles romperam por causa de desavenças na eleição estadual alagoana e Renan se converteu num dos maiores críticos do ex-presidente durante o processo de impeachment.
No governo Itamar Franco (1992-1994), o político assumiu cargo de confiança na Petrobras e atuou mais nos bastidores, até retomar o protagonismo no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Eleito senador em 1994, o alagoano tomou posse em 1998 como ministro da Justiça de FHC, onde permaneceu até 1999.
Tanto é que, nas eleições de 2002, o senador já tratou de se aliar ao ex-presidente Lula, que, pela primeira vez, sairia vitorioso na corrida pelo Planalto. “Renan é um grande articulador político. Sabe negociar. Na política, isso é muito valorizado. A Dilma está no fundo do poço, ele vai e joga a linha salvadora, o colete salva-vidas”, reforça Fleisher, que trata a proposição da Agenda Brasil como uma estratégia de defesa. “Ele está na lista da Lava-Jato e está fazendo de tudo para escapar”, opina.
ILESO E Renan tem passado imune pelos processos dos quais foi alvo. Em 2007, chegou a renunciar à presidência do Senado para evitar a cassação do mandato. Primeiro, foi acusado de ter despesas pagas por lobista da construtora Mendes Júnior, que bancava as contas de relacionamento extraconjugal do senador.
Além das duas acusações, o senador esteve em meio a polêmicas que envolvem empresas-fantasma, uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a festas e outras tantas já arquivadas. Mas Renan, que completa 60 anos em setembro, sempre encontra um jeito de se reinventar. Mesmo depois das denúncias, conseguiu se reeleger mais duas vezes presidente do Senado e agora ser tratado, novamente, como convidado de honra nos salões do Palácio do Planalto.
2015
Um delator da Operação Lava-Jato afirma, em março, que Renan recebeu propina em contratos da Petrobras. Relação com a presidente Dilma fica estremecida, mas, em agosto, o senador propõe a Agenda Brasil.
2013
Retorna à presidência do Senado pela terceira vez – ele já está no quarto mandato como presidente.
2007
Renan renuncia à presidência do Senado para evitar a cassação. Ele foi acusado de ser sócio, por meio de laranjas, de duas rádios e um jornal de Alagoas e também de ter despesas de “relacionamento extraconjugal” pagas por um lobista da Mendes Júnior.
1998
Então senador pelo PMDB, Renan toma posse como ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Nas eleições de 2002, passa a ser aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
1992
Depois de perder a eleição ao governo de Alagoas e romper com Collor, Renan se torna um dos articuladores do impeachment, acusando o tesoureiro Paulo César Farias de criar “governo paralelo”.
1990
Renan era líder de governo na Câmara e foi um dos que anunciaram o Plano Collor, reforma econômica para controlar o aumento da inflação que confiscou as poupanças.
1989
Deputado federal e filiado ao PRN, Renan assume a assessoria da campanha do então candidato à Presidência Fernando Collor de Melo (PRN), eleito com 42,7% dos votos.
1978
Aos 23 anos, é eleito deputado estadual em Alagoas pelo MDB, partido de oposição ao regime militar. Era opositor do prefeito de Maceió, Fernando Collor, a quem se referia como “prefeito sem cheiro de voto e de povo” e “príncipe herdeiro da corrupção”..