Brasília – Mesmo após denunciar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Procuradoria-Geral da República continua a investigá-lo em relação à acusação de suposta cobrança de propina de um estaleiro para que ele negociasse dois navios da Petrobras e sobre outros crimes que os investigadores entendem que o deputado também possa ter cometido. Na acusação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e seu time de 11 procuradores e promotores de Justiça mapearam até onde puderam o “caminho do dinheiro”, a rota percorrida pelo suborno que teria saído dos bolsos do ex-lobista da Samsung Heavy Industries, Júlio Camargo, até chegar às mãos do operador Fernando Soares, o Fernando Baiano, e de Eduardo Cunha.
Não há uma operação financeira direta localizada entre Baiano e o deputado, mas indicativos fortes de que isso ocorreu pelo contexto de fatos denunciados por Camargo confirmados por documentos – como reuniões em datas, locais e horários e específicos. No entanto, a reportagem apurou que ainda há investigações para localizar contas e depósitos no exterior cujo beneficiário seria o próprio presidente da Câmara. Além disso, o Código Penal permite que alguém seja condenado por corrupção mesmo que o dinheiro não tenha chegado até o beneficiário, mas apenas pela comprovação de que a propina tenha sido exigida.
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Denunciado por corrupção, Cunha não explica as acusaçõesCunha tenta barrar movimento por sua saídaPara Lula, petistas devem ter 'cautela' mesmo com denúncia contra CunhaCunha diz a aliados que Renan deve aparecer nas próximas delaçõesSolange aparece e diz que não tem 'nada a declarar' sobre relação com CunhaApós reunião, ministros evitam falar sobre denúncia contra CunhaComissões foram turbinadas após Cunha romper com PlanaltoPT acata Lula e trata Cunha com 'cautela'SILÊNCIO Eduardo Cunha informou aos procuradores do Grupo de Trabalho da Lava-Jato na PGR que não queria prestar depoimento. A reportagem questionou a assessoria do presidente da Câmara se ele administra dinheiro próprio ou de terceiros no exterior, mas não obteve esclarecimentos. O deputado disse na semana passada que não poderia comentar objetivamente as denúncias por orientação de seu advogado, o ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza.
Bunker com identificação
O procurador Rodrigo Janot montou uma espécie de “bunker” em seu gabinete, na cobertura de um dos edifícios espelhados da Procuradoria-Geral da República, no Setor de Administração Federal Sul (SAFS), em Brasília. É uma sala com porta travada e que só abre com identificação biométrica. Os autorizados a passar por ela são apenas os 11 procuradores e promotores que ele designou para compor o grupo de trabalho da Lava-Jato nos tribunais superiores da capital. Foi de lá que os procuradores trabalharam na redação das denúncias contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Fernando Collor (PTB-AL) e ainda apuram as dezenas de inquéritos contra outros políticos suspeitos de terem recebido propina no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.
Na sala, há mesas, computadores e muitos papéis. Os depoimentos são tomados em outro lugar para evitar que os investigados observem documentos esparramados pelas mesas do bunker. Assessores e secretárias só entram quando chamados, e por pouco tempo. A sala de depoimentos tem estrutura para filmar as oitivas das testemunhas.
O chefe maior é, obviamente, Janot, que assina as denúncias.
Raios-X da acusação
. O lobista do estaleiro Samsung Júlio Camargo negociou dois navios para a Petrobras por US$ 1,2 bilhão e, para isso, teria pagado propina a Eduardo Cunha, ao ex-diretor da petroleira Nestor Cerveró e ao lobista Fernando “Baiano”
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Os próximos passos
. Os acusados foram notificados na sexta-feira. Eles têm 15 dias para apresentar defesa
. O plenário do STF decide se recebe (inteira ou em parte) ou se rejeita a denúncia
. Se for recebida, os denunciados viram réus
. Testemunhas da acusação e da defesa são ouvidas. Documentos são anexados ao processo pela acusação e pela defesa
. Acusação e defesa apresentam seus argumentos finais no caso
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. O relatório e voto são trazidos para o plenário do STF
. Após Teori votar, os demais 10 ministros votam. São necessários seis votos para conseguir condenar alguém. Um eventual empate, em caso de ausência de ministro, favorece o réu
Ressarcimento
R$ 277 milhões
é valor pedido de indenização encaminhado pela PGR ao Supremo, sendo R$ 138 milhões como perda de bens da corrupção total apurada e R$ 138 milhões por reparação de danos materiais e morais à Petrobras
85
páginas e mais anexos do processo.