Jornal Estado de Minas

Em visita tumultuada, Lula reafirma disposição para concorrer à presidência em 2018

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
A passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por Belo Horizonte, ontem, foi marcada por tumulto em frente ao Chevrolet Hall, onde o líder petista participou do 12º Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais, que fez um ato em defesa da Petrobras e da democracia. Manifestantes contrários ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e os militantes aliados do petista chegaram a entrar em confronto, sendo preciso a intervenção da Polícia Militar para apaziguar os ânimos. Desde às 16h30, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da CUT, de um lado, e do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Patriota, do outro, dividiam o espaço na Avenida Nossa Senhora do Carmo, Região Centro-Sul de BH, à espera do ex-presidente.

Na porta do Chevrolet Hall, cerca de 100 manifestantes contrários ao PT gritaram palavras de ordem como “Eu vim de graça”, carregando um caixão, que simbolizava a morte do partido, e exibindo faixas e cartazes, que pedem a investigação da presidente Dilma Rousseff e apoiam o juiz Sérgio Moro, coordenador das ações penais da Lava-Jato. No canteiro central da avenida, apoiadores do PT, responderam com gritos de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”.

O clima ficou tenso quando os opositores ao PT fizeram um panelaço, chamando Lula de “ladrão” e “chefe da quadrilha”, e invadiram a avenida atrapalhando o trânsito. A Polícia Militar teve de intervir, usando spray de pimenta para impedir o confronto entre os manifestantes. Uma mulher ignorou os pedidos dos policiais para não atravessar a avenida e partiu para provocar os militantes petistas, chamando-os de “vagabundos”. Ela acabou se envolveu em uma briga com os apoiadores do governo. Muitos motoristas fizeram buzinaço ao passar pelo local apoiando o protesto anti-Lula.
Orientados pela PM, os manifestantes começaram a se dispersar logo após o início do evento.

AGENDA Lula chegou  com uma hora e meia de atraso ao Chevrolet Hall, que não foi totalmente ocupado pela militância. Ele entrou no palco de braços dados com a presidente da CUT em Minas, Beatriz Cerqueira, e foi recebido pelo público com gritos de ‘Lula, guerreiro do povo brasileiro’. Depois de distribuir autógrafos, ganhar camisas e ouvir discursos de “não vai ter golpe”, o petista repetiu a declaração, feita a uma rádio pela manhã, de que pode concorrer de novo à Presidência, em 2018. “Tem gente pensando: o Lula tá velhinho, o Lula tá cansado, o Lula não sei das quantas. Eu jamais vou dizer para alguém que sou candidato, mas eu também jamais vou dizer que não sou. Enquanto eu tiver fôlego, perna e puder, vou percorrer este país”, afirmou.

O ex-presidente se dirigiu aos opositores, dizendo que é legítimo eles não concordarem com o governo e protestarem, mas, se quiserem chegar ao Palácio do Planalto, vão ter de esperar 2018 para disputar e ganhar as eleições. Segundo ele, o cargo não será conquistado “com um golpe para tirar a presidente Dilma”.

Recebido por manifestantes, Lula disse que aqueles que hoje protestam aprenderam com eles, mas o fazem diferente. Segundo o petista, enquanto sua militância se manifestava por direitos como ao emprego, educação e outros, os manifestantes de hoje protestam contra os direitos alcançados pelos menos favorecidos. Lula chamou os responsáveis pelos protestos de privilegiados.

Pela manhã, logo depois do desembarque no Aeroporto da Pampulha, o ex-presidente se encontrou com o governador Fernando Pimentel (PT), com quem almoçou no Palácio das Mangabeiras. À tarde, ele teve uma reunião a portas fechadas da executiva estadual do PT, em um hotel da capital mineira. Quem entrou teve de deixar o celular do lado de fora. Lula disse aos parlamentares que o PT precisa reencontrar sua narrativa neste momento de crise e dar de novo fervor à militância.

CANDIDATURA Na manhã de ontem, antes de embarcar para Belo Horizonte, em entrevista à Rádio Itatiaia, Lula afirmou pela primeira vez que, se for preciso, disputará a Presidência da República. O ex-presidente declarou que tem como objetivo “tentar fazer com que essa gente que nunca fez nada pelo país, que nunca se preocupou com a educação e com políticas sociais, que governou para um terço da população, não volte a governar”.

Na entrevista, Lula disse que Dilma, e também ele, não sabiam da corrupção na Petrobras. “Eu não sabia, a Polícia Federal não sabia, a imprensa não sabia, o Ministério Público não sabia.
Ficou sabendo depois do grampeamento do tal de Youssef (o doleiro Alberto Youssef), que tinha passagens pela polícia, falando com outros caras. Seria ótimo se a Polícia Federal soubesse que o Paulo Roberto (Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras) era do jeito que é”, disse.

MEA CULPA O ex-presidente fez ainda um mea-culpa sobre o envolvimento do PT na corrupção na estatal. Segundo ele, o PT “cresceu demais e cometeu desvios porque começou a fazer política como outros partidos”. Lula disse não acreditar em um eventual impeachment da presidente Dilma. Para ele, a situação vai melhorar quando os resultados do pacote fiscal do governo começarem a surtir efeito.

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