O senador Fernando Collor (PTB-AL) se beneficiou da emissão de notas frias da contadora Meire Poza, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef. A informação consta da denúncia contra o ex-presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal (STF), que há mais de uma semana mantém o documento em sigilo.
Parte dos recursos recebidos pela contadora teve origem numa empresa de um amigo do ex-presidente, que, por sua vez, recebeu dinheiro de consultoria sem nenhuma explicação da empreiteira Camargo Corrêa. A construtora repassou R$ 3,5 milhões para a Globalbank, do ex-ministro “collorido” Pedro Paulo Leoni Ramos. Dois dias depois do recebimento de uma parcela do dinheiro, em 19 de dezembro de 2012, a firma do amigo do senador repassou R$ 729 mil para o escritório de contabilidade de Meire Poza, que enviou o dinheiro para o doleiro.
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Mas, para a PGR, não foi só. Collor “figura em outras operações suspeitas envolvendo a manipulação de dinheiro em espécie em quantias consideráveis”, de acordo com manifestação do Ministério Público, assinada por Janot e produzida com apoio de um grupo de trabalho de 11 procuradores e promotores de Justiça designados para a Lava-Jato.
R$ 26 milhões
Ao todo, o senador é acusado de receber R$ 26 milhões em propinas no esquema de desvios da Petrobras entre 2010 e 2014. Um dos motivos dos subornos era um contrato de troca de bandeira de postos de combustíveis. O acordo foi fechado entre a Petrobras Distribuidora, a BR Distribuidora e a empresa DVBR Derivados do Brasil S/A. O outro foram contratos de construção de base de combustível entre a BR e a UTC Engenharia, de Ricardo Pessoa, que fechou delação premiada. Ele disse que pagou R$ 20 milhões a Collor com recursos do esquema.
O senador e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também denunciado, responderão a outros inquéritos da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre outros crimes de colarinho branco. Assim como fizeram em junho, a Camargo Corrêa e “PP” não explicaram que tipo de consultorias justificou o pagamento de R$ 3,5 milhões pela empreiteira.
Carro do doleiro
Carros de luxo do senador foram apreendidos em julho, durante a Operação Politeia uma Ferrari, uma Lamborghini e um Porsche. Mas, em um ofício a Zavascki, Janot diz que um outro carro foi comprado com parte do dinheiro recebido de Youssef, um Bentley Continental 2012/2013, de placa CJC-0110-SP. “A suspeita se confirmou”, diz a Procuradoria, já que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras mostrou que ele foi comprado por empresa ligada ao doleiro, a Phisical Comércio, por R$ 225 mil. O restante do valor do carro, R$ 770 mil, foi pago pela empresa do senador, a Gazeta de Alagoas.
A própria Gazeta recebeu dinheiro de Youssef em outros momentos. O doleiro afirmou que fazia pagamentos em espécie para Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni. Tudo tinha como destino o senador. “As vantagens ilícitas foram pagas por meio de sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, envolvendo diversas pessoas físicas e empresas, chegando às mãos do senador Fernando Collor de Mello em valores em espécie.”
"Lances espetaculosos"
A assessoria de Collor não prestou esclarecimentos à reportagem. Apesar de já ter até xingado o procurador Rodrigo Janot, o senador jamais esclareceu o motivo de ter recebido dinheiro do doleiro Alberto Youssef, parte dele em sua própria conta bancária.
A Camargo Corrêa disse apenas que “segue colaborando com as investigações coerente com a decisão de sua administração de sanar irregularidades e aprimorar os programas de controle interno e compliance”. A empreiteira fechou acordos de leniência com o Executivo para pagar mais de R$ 800 milhões em multas, confessar crimes e apontar responsáveis por negociatas na Petrobras e na usina de Angra 3.
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