Jornal Estado de Minas

"Não há justificativa para meu nome entrar nisso", diz Anastasia sobre arquivamento de investigação


Três dias após a Procuradoria-Geral da República pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento da investigação, no âmbito da Operação Lava-Jato, contra o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), ele desabafa: “Tenho 30 anos de serviço público. Nunca tive um processo, uma acusação. Moro em Belo Horizonte, todos que me conhecem sabem que tenho uma vida simples”. Segundo o senador, nos dias de hoje, o princípio da presunção da inocência anda “arranhado” principalmente porque as notícias são veiculadas como se a pessoa representada pelo Ministério Público já tivesse sido condenada.

 

No âmbito da Operação Lava-Jato, o senhor foi citado pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, que alegou ter-lhe entregue recursos distribuídos pelo doleiro Alberto Youssef. Como foi a sua defesa?
O Ministério Público Federal tem o dever de fazer apurações. Pelo fato de ser senador, por eu ter foro privilegiado, teve de pedir autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para a abertura do inquérito. O ministro Teori Zavascki, relator do caso, autorizou. E a Polícia Federal fez as investigações.
Ouviu o Alberto Youssef, que rechaçou as afirmações do tal Careca, pessoa que nunca vi na vida. A investigação da Polícia Federal levou o Ministério Público Federal a concluir a inexistência de indícios mínimos contra a minha pessoa. Por isso encaminhou ao STF o pedido de arquivamento. Eu recebi a notícia satisfeito com o reconhecimento da Justiça deste equívoco.

Que avaliação faz do preceito da presunção da inocência no Brasil, num momento em que basta ser citado por um réu para se tornar investigado e ser apresentado como culpado?
Quando fui envolvido nisso, o meu sentimento foi de indignação, raiva e tristeza. A vida inteira agindo corretamente, trabalhando corretamente, para isso? Tenho 30 anos de serviço público. Nunca tive um processo, uma acusação. Moro em Belo Horizonte, todos que me conhecem sabem que tenho uma vida simples.
Todos esses sentimentos se misturaram. Mas sempre com a consciência tranquila, pois o fato inexistiu. Diante dessa situação inverossímil e fantasiosa, sempre tive confiança que haveria o arquivamento. Mas acho que nos dias de hoje a presunção da inocência anda muito arranhada. O Ministério Público Federal fez o seu papel institucional. Não temos crítica. Mas quando a notícia é alardeada em âmbito nacional, em repercussão como se a pessoa já estivesse condenada, é muito complicado, fica uma situação desagradável. E o pior é que, nesse caso concreto, a situação descrita na delação é inverossímil.
Um governador do estado receber recurso de quem nunca viu.

O doleiro Alberto Youssef negou ter enviado ao senhor qualquer recurso, mas afirmou ter mandado a alguém em Belo Horizonte R$ 1 milhão. Por que o seu nome entrou nisso?
Esse é o mistério. Não há justificativa para o meu nome entrar nisso. Primeiro porque era governador da oposição, nunca tive relacionamento com a Petrobras, não há e-mail, telefonema, nada a nenhum diretor. A única coisa que havia era a afirmativa do tal Careca, com quem nunca estive, que inclusive não estava em delação premiada. Quem estava em delação premiada era o Yousseff que, ao contrário, nunca disse nada sobre mim. Ele afirmou que mandou a Belo Horizonte, mas não foi para o Anastasia. Fui envolvido em algo kafkiano.

Quem teria recebido esse dinheiro em Belo Horizonte?

Não tenho a menor ideia. Posso afirmar com certeza que não foi para mim. Não recebi nada.
E fui envolvido nisso. Espero que seja esclarecido o que aconteceu, e inclusive, qual foi o motivo que levaram a inserir o meu nome nisso.

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