Curitiba – O ex-ministro José Dirceu deve ser indicado hoje pela Polícia Federal, que encaminhará o inquérito ao Ministério Público Federal, a quem cabe formalizar a denúncia à Justiça. O advogado dele, Roberto Podval, dá como certo o indiciamento, já que o petista está preso preventivamente em Curitiba. Há suspeitas de que o ex-ministro recebia pagamentos de empreiteiras para consultorias que não existiram e que poderiam ser propina, mas a sua defesa sustenta que todos os serviços para os quais ele foi contratado foram prestados.
Ontem, ele ficou em silêncio na CPI da Petrobras e na própria PF, onde também foi levado para depor. A CPI encerrou seu primeiro dia de trabalho em Curitiba, base da Operação Lava-Jato, sem obter qualquer revelação. Os cinco convocados, entre eles Dirceu, permaneceram em silêncio total. Por orientação de seus defensores, diante das perguntas dos parlamentares todos ficaram calados. O primeiro a ser levado à mesa diante dos deputados da CPI que investiga propinas na Petrobras foi Dirceu. “Seguindo orientação de meus advogados, vou permanecer em silêncio”, foi a resposta padrão de Dirceu, que estava ao lado de seu advogado, Roberto Podval. Em razão da recusa do ex-ministro em responder aos questionamentos, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), chegou a oferecer a Dirceu a oportunidade de depor em reunião secreta, mas ele também recusou.
O segundo convocado foi o lobista João Augusto Bernardi Filho, que era representante de uma multinacional italiana e mantinha vínculos com a empreiteira Odebrecht. Na sequência, foi chamado o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo. Depois, se sentou à mesa para ser questionado pelos membros da CPI o ex-diretor de Internacional da Petrobras Jorge Zelada. O interrogatório do executivo Elton Negrão de Azevedo foi o último da lista do dia, mas, como os outros que o antecederam, ficou calado à frente aos parlamentares.
Hoje, a CPI pretende interrogar mais seis investigados, entre eles o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde 19 de junho pela Operação Erga Omnes, desdobramento da Lava-Jato. Odebrecht também deverá permanecer calado diante dos parlamentares. “Espero que quem está sendo ouvido, em outro momento, seja orientado por sua defesa a prestar seus esclarecimentos”, afirmou o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA), um dos autores do pedido de interrogatório de José Dirceu.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) fez uma defesa dos governos Lula e Dilma na gestão da Petrobras e protestou contra o fato de Dirceu, preso há mais de 10 dias, não ter sido ouvido ainda pela Polícia Federal em relação às acusações que pesam sobre ele. “A Petrobras foi revigorada pelo presidente Lula e pela presidente Dilma. Estamos combatendo a corrupção. Venho aqui dizer que a pessoa que está em investigação e tem o direito constitucional de ficar calada não foi até agora sequer ouvida ainda pela polícia”, disse a parlamentar petista.
Depois de ter ficado calado em depoimento à CPI da Petrobras, Dirceu também ficou em silêncio na Polícia Federal, por orientação de seu advogado. Ele está preso preventivamente na carceragem da PF em Curitiba. A reportagem apurou que a PF deve indiciar Dirceu hoje e encaminhar o relatório ao Ministério Público Federal, a quem cabe formalizar uma eventual denúncia à Justiça.