Brasília - Mesmo sem esconder a contrariedade com o rombo escancarado no projeto de lei do Orçamento de 2016, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começou a se reaproximar dos líderes de partidos aliados no Congresso, na tentativa de encontrar uma solução para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões.
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Déficit no Orçamento expõe divisão na equipe econômicaDilma mandou Levy anunciar déficit de Orçamento ao lado de BarbosaBarbosa reconhece que governo pode fazer mudanças na proposta orçamentáriaO ministro queria um corte maior das despesas públicas, da ordem de R$ 15 bilhões, mas a presidente Dilma Rousseff não aceitou. Sem a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), conhecida como "imposto do cheque", restou ao governo admitir o vermelho nas contas.
Levy foi contra, mas acabou vencido. Nas discussões internas, o titular da Fazenda questionou os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) sobre o impacto, na economia, da decisão de expor o déficit no Orçamento. O maior temor da equipe econômica é que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do Brasil, que pode perder o grau de investimento.
Dilma, porém, não gostou da nova tesourada oferecida por Levy e preferiu o Orçamento "realista". Ela também tinha dúvidas sobre a recriação da CPMF, defendida por Barbosa e Mercadante como alternativa para não explicitar o rombo.
Foram três dias de agonia, mas a presidente só desistiu de vez da CPMF depois que o vice Michel Temer disse a ela que um projeto para aumentar imposto não passaria nem na Câmara nem no Senado. Não foi só: Temer avisou que não moveria uma palha para ajudar o Planalto. Além de não contar com o apoio dos aliados, Dilma não teve respaldo dos empresários.
Canhões e miopia
Nos bastidores, Levy chegou a chamar a CPMF sugerida por Barbosa de "Grande Berta", numa alusão ao canhão produzido para a Primeira Guerra Mundial, que, apesar da capacidade para disparar munições a longa distância, não era eficiente, por causa do peso excessivo.
Depois da tempestade, porém, Levy e Barbosa decidiram submergir. Dilma deu a ordem para que os dois mostrassem unidade no anúncio da proposta orçamentária, na segunda-feira, mas o desconforto do ministro da Fazenda ficou evidente.
"O problema é que a briga do Levy é com a realidade. Diante do aumento do desemprego e da recessão, não dá para ter um ajuste fiscal do tamanho que ele quer", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR). "A sensação que a gente tem é que Levy está na frigideira, com o óleo cada vez fervendo mais", disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Fiador da política econômica, o ministro sempre foi visto pelo mercado como uma "bússola", mas, nos últimos tempos, tem enfrentado a impaciência de Dilma e o "fogo amigo" no PT e no governo. Apesar disso, não tem intenção de deixar o cargo, ao menos por enquanto. "Se Dilma demitir Levy, o governo acaba", provocou o senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM. .